26/06/2010

General de Angola é sócio de empresa aérea brasileira

General de Angola é sócio de empresa aérea brasileira

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Por anos o presidente Lula desejou ver uma companhia aérea nacional voando para o continente africano.

O problema era a falta de interesse das grandes empresas brasileiras, como TAM, Gol e OceanAir.

O sonho do presidente agora ganha asas, graças ao general Higino Carneiro, um dos homens mais ricos de Angola. Apelidado em seu país de Bulldozer ("trator"), Carneiro era, até o início do ano, ministro de Obras Públicas.

Após adquirir uma fatia de uma empresa regional paraense, a Puma Air, Carneiro prepara-se para transformá-la em uma companhia aérea internacional -a empresa pretende até junho voar para Angola.


A façanha veio da união entre uma das várias empresas de Carneiro, a Angola Air Services, e o empresário brasileiro Gleison Gambogi de Souza -até 2005, dono de um negócio de franquia de livros infantis.

Formalmente, Gambogi detém 80% da empresa. A participação da AAS, de Carneiro, ficou limitada a 20%, o teto legal para a participação de estrangeiros no setor.

Gambogi conta que conheceu Carneiro em Angola, onde viveu os últimos cinco anos.

O empresário foi para o país africano pela primeira vez em 2004 "prestar consultoria" para a empreiteira Metro Europa.

Virou sócio e vice-presidente da empreiteira. Foi quando estreitou laços com Carneiro.

"Chegamos a ter uma carteira de US$ 1 bilhão em obras em Angola", disse Gambogi. "Fiz minha vida empresarial em Angola e, para o Brasil, estou nascendo agora. Mas vocês vão ouvir falar muito de mim."

Para ganhar tempo, a Puma decidiu por não montar uma estrutura operacional, mas alugar da Gol/VRG um Boeing- 767, com tripulação e tudo, numa modalidade de aluguel conhecida como "wetlease".

Confiantes de que terão todas as autorizações concedidas pela ANAC(Agência Nacional de Aviação Civil), os sócios da Puma já providenciaram a pintura do avião, que se encontra no hangar de manutenção da Gol em Belo Horizonte.

Como as regras brasileiras não permitem que uma empresa se aventure no espaço aéreo internacional sem que tenha experiência no mercado doméstico, a Puma foi obrigada a montar primeiro uma operação doméstica e passar pelo processo de certificação para realizar voos regulares com aviões de grande porte.

Como já tinha base no Pará, a Puma escolheu a rota Guarulhos-Macapá-Belém.

O voo também será feito com um avião da Gol, um Boeing-737.

Por conta do risco envolvido no negócio, os contratos firmados entre a Gol e a Puma, segundo a Folha apurou, preveem pagamento antecipado.

A Puma nasceu com capital social de R$ 5 milhões.

Gambogi diz ter investido R$ 25 milhões, sendo 20% de Angola e o restante "do próprio bolso."

Dentro dos pleitos feitos pela Puma ao governo brasileiro está a dispensa de apresentar um atestado de segurança operacional chamado Iosa, concedido pela Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo).
"Como a operação será feita pela Gol/VRG, entendemos que podemos voar com o Iosa da VRG.

A Iata já deu o aval dela; cabe à Anac dizer sim ou não", disse Gambogi.

A Anac confirma que recebeu a solicitação da Puma para voar com o Iosa da VRG, mas informa que só vai começar a analisar o caso depois que a Puma obtiver a autorização e iniciar a operação no mercado doméstico.

O Iosa é o mais abrangente compêndio de segurança aérea do mundo.


Sócio angolano é citado na CPI dos Bingos

Um dos dez empresários mais ricos de Angola, Higino Carneiro construiu seu império empresarial enquanto exercia as funções de ministro de Obras Públicas, cargo que ocupou até o início do ano.

À frente do ministério, Carneiro tocou pessoalmente o enorme canteiro de obras no qual se transformou Angola após o fim da guerra civil, em 2002. Simultaneamente, construiu um império empresarial.

Além da Angola Air Services, Carneiro é dono de hotéis, bancos, seguradoras e fazendas.

A atuação de Carneiro sempre foi objeto de críticas e denúncias, dentro e fora de Angola.

No Brasil, seu nome aparece na CPI dos Bingos, instalada em 2005 para investigar o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado em vídeo negociando propina com um empresário do ramo de jogos.

Grampos telefônicos mostraram empresários e ex-assessores próximos ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci intermediando a venda de um banco brasileiro, sediado no Rio, para o Banco Regional do Keve, pertencente a Carneiro.

A intermediação foi feita por Roberto Colnaghi, o empresário que emprestou o avião Sêneca para transportar Palocci e caixas de uísque com supostos dólares que financiaram campanhas eleitorais do PT.

Em depoimento à comissão, Colnaghi disse ser "amigo do pessoal do Banco do Keve" e que usou a instituição financeira de Carneiro apenas para viabilizar operações comerciais.

Outro empresário brasileiro que se aproximou de Carneiro foi Roberto Carlos Kurzweil, também ligado a Palocci.

Kurzweil é dono do Omega preto blindado usado por Delúbio Soares para ir depor na Comissão de Ética do PT que o expulsou, em 2005.

A nova estrutura societária da Puma Air foi aprovada em janeiro pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), que avaliou a regularidade jurídica e a nacionalidade dos sócios.

"Foi comprovado que a empresa cumpre o requisito de 80% do capital controlador com brasileiros", afirmou a Anac.

Questionada se a análise leva em conta a origem do capital dos sócios, a ANAC afirmou que isso está fora de sua competência.

"A análise da Anac é focada na empresa e sua capacidade de realizar as operações, não na origem do capital dos sócios pessoas físicas."

Colaborou com a matéria :Angela Arend

Por:Mariana Barbosa e Marcio Aith na Folha de S.Paulo



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