RAS LANUF, Líbia (Reuters) - A Grã-Bretanha e França disseram na segunda-feira que desejam obter autorização da ONU para impor uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, onde os aviões do dirigente Muammar Gaddafi contra-atacaram forças rebeldes, e entidades humanitárias disseram haver 1 milhão de pessoas precisando de ajuda urgente.
Os rebeldes rejeitaram uma conciliação oferecida por um membro do regime, e os combates se intensificaram em torno de um dos principais portos petrolíferos do país. Gaddafi, há 41 anos no poder, advertiu que milhares de refugiados irão "invadir a Europa" se ele for deposto.
Em duas cidades do oeste da Líbia --Misurata e Zawiyah-- os civis estão cercados por forças governistas, e há crescentes temores de uma crise humanitária no país se os combates continuarem.
"Estamos trabalhando estreitamente com nossos parceiros (...) em elementos de uma resolução para uma zona de exclusão aérea, tornando clara a necessidade de apoio regional, uma motivação clara para essa resolução e uma base jurídica adequada", disse na segunda-feira o chanceler britânico, William Hague.
Uma fonte diplomática francesa afirmou que a França está "trabalhando com seus parceiros (na sede da ONU) em Nova York por uma resolução (que crie a) zona de exclusão aérea".
Em visita ao Afeganistão, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, alertou que qualquer ação na Líbia "deve ser o resultado de sanções internacionais".
A Casa Branca disse que todas as opções estão em aberto, inclusive a de armar os rebeldes.
A Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, afirmou ser contra uma intervenção militar estrangeira. "Os líbios têm de resolver seus problemas sozinhos", afirmou o chanceler Sergei Lavrov.
A imposição de uma zona de exclusão aérea não seria uma mera tecnicalidade.
O primeiro passo seria provavelmente um bombardeio às defesas aéreas da Líbia, mas os líderes ocidentais estão preocupados em evitar outro compromisso militar prolongado, depois dos exaustivos conflitos em andamento no Iraque e Afeganistão.
CIDADE SITIADA
A entidade Solidariedade Líbia dos Direitos Humanos, com sede na Suíça, disse que as forças leais a Gaddafi lançaram uma nova tentativa de capturar Zawiyah, cidade controlada pelos rebeldes, 50 quilômetros a oeste da capital.
Foi impossível verificar esses relatos, porque não houve meio de contatar moradores por telefone.
Em Misurata, outra cidade controlada pelos rebeldes, os feridos estão sendo tratados no chão do hospital, devido à catastrófica escassez de instalações médicas na cidade sitiada, segundo um morador.
Misurata é a maior cidade do oeste que não está sob o controle do governo, e se tornou um símbolo de resistência ao desafiar uma milícia comandada por um filho do próprio Gaddafi.
No leste, aviões bombardearam a localidade de Ras Lanuf, onde há um importante terminal petrolífero, 600 quilômetros a leste de Trípoli, a capital, segundo testemunhas. Um míssil atingiu um carro que transportava uma família.
Fontes ligadas à navegação comercial disseram que os combates provocaram o fechamento dos portos petrolíferos de Ras Lanuf e Brega.
A cotação do petróleo tipo Brent superou na segunda-feira os 118 dólares por barril, e no mercado dos EUA o produto atingiu seu maior valor desde setembro de 2008.
Os confrontos na Líbia são erráticos, com pequenos grupos enfrentando-se mutuamente, em incursões ao estilo das guerrilhas.Os bombardeios aéreos são intermitentes e não muito precisos. Mas a resistência das tropas de Gaddafi e sua capacidade de lançar contra-ataques geram a perspectiva de um conflito violento e prolongado.
A ONU e a União Europeia estão enviando missões de averiguação para a Líbia, em meio a relatos de ataques das forças de segurança contra civis, o que motiva propostas de investigação de eventuais crimes de guerra.
Em Genebra, a coordenadora de ajuda humanitária da ONU, Valerie Amos, disse que mais de 1 milhão de refugiados precisam de auxílio dentro e fora da Líbia.
"As organizações humanitárias precisam de acesso urgentemente agora", afirmou Amos. "As pessoas estão feridas e morrendo e precisam de ajuda imediatamente."
Os rebeldes querem que a ONU e a comunidade internacional promovam bombardeios aéreos para conter supostos mercenários a soldo de Gaddafi.
O dirigente, por sua vez, afirma estar enfrentando terroristas ligados à Al Qaeda, e garante que suas forças só atacam indivíduos armados que cometem atentados contra instituições e depósitos estatais.
CONTRA-ATAQUE
Testemunhas disseram que o avanço das forças governamentais em Ras Lanuf forçou os moradores a fugirem e os rebeldes a esconderem suas armas no deserto.
Um homem queixava-se da inexperiência dos rebeldes, enquanto um combatente, deitado de costas, disparava a esmo contra um avião.
"Veja o jeito como eles atiram no avião", disse. "Eles não têm nenhuma experiência, não têm liderança e não tem estratégia."
O Exército avançava pela estrada costeira a leste da cidade recapturada de Bin Jawad, rumo Ras Lanuf, a cerca de 60 quilômetros dali.Analistas dizem que vitórias para qualquer um dos lados nos portos de petróleo de Ras Lanuf e Brega podem ser decisivas no conflito.
Jadallah Azous Al Talhi, que foi premiê líbio na década de 1980 e é natural do leste do país, apareceu na televisão estatal lendo um pronunciamento aos anciãos de Benghazi, principal cidade em poder dos rebeldes.
Ele pediu que esses líderes "deem uma chance para o diálogo nacional a fim de resolver esta crise, para ajudar a parar o derramamento de sangue, e não dar uma chance para que estrangeiros entrem no nosso país e o capturem de novo."
Mas Jabreel Ahmed, assessor do líder rebelde Mustafa Abdel Jalil, disse que "qualquer negociação precisa ter como base a renúncia de Gaddafi --não pode haver outro compromisso".
Em entrevista à TV France 24, Gaddafi afirmou que a Líbia é um parceiro importante do Ocidente no combate à Al Qaeda e à migração clandestina para a Europa.
"Há milhões de negros que poderiam chegar ao Mediterrâneo e atravessar para a França e a Itália, e a Líbia desempenha um papel na segurança no Mediterrâneo", afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar e enviar seu comentário
Voar News Agradece pela sua participação