A aviação de Muamar Kadhafi bombardeou nesta segunda-feira a cidade de Ras Lanuf (leste), abandonada pela população que fugiu apavorada ante o risco de uma repressão brutal como as de Bin Jawad e Misrata, onde a ofensiva contra a rebelião deixou dezenas de mortos.
Kadhafi tenta romper também o isolamento diplomático, no momento em que o tom de voz se eleva nos Estados Unidos e entre os europeus para impedir que Trípoli bombardeie a população e forçar sua saída do poder.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, advertiu que "ataques generalizados e sistemáticos contra populações civis podem constituir crimes contra a humanidade".
Uma fonte diplomática na ONU revelou que França e Grã-Bretanha estão elaborando um projeto de resolução do Conselho de Segurança para impor uma zona de exclusão aérea na Líbia.
A chancelaria francesa informou que a Liga Árabe respaldaria uma medida deste tipo.
O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, confirmou que a Grã-Bretanha prepara um projeto de resolução da ONU sobre uma zona de exclusão aérea na Líbia, mas disse que ela deverá ter o apoio local e regional, assim como uma base legal clara.
A União Europeia (UE) também prepara novas sanções financeiras, especialmente contra a Autoridade Líbia de Investimentos (LIA), um fundo soberano que administra os recursos petroleiros e possui participações em várias empresas européias.
Kadhafi, 68 anos, no poder desde 1969, acusou a França de "interferência" por ter apoiado o Conselho Nacional instalado pela oposição em Benghazi (a segunda cidade do país, 1.000 km ao leste de Trípoli) para governar as "zonas liberadas", em entrevista ao canal France 24.
Ele afirmou na mesma entrevista que na Líbia existe um "complô", ao citar a presença de "extremistas armados", de "pequenos grupos" e de "células adormecidas" da Al-Qaeda que pegaram em armas contra a polícia e o Exército.
"A Al-Qaeda tem um plano. Penso que a Al-Qaeda tenta se aproveitar da situação na Tunísia, no Egito. Houve centenas e centenas de mortos do lado da polícia, dos rebeldes", insistiu.
"Participamos da luta contra o terrorismo", afirmou.
"O Conselho Nacional líbio de Benghazi navega sobre a onda do islamismo. Se os terroristas vencerem (...), eles não acreditam na democracia", acrescentou Kadhafi.
A aviação de Kadhafi fez várias incursões no porto petroleiro de Ras Lanuf, o que provocou a resposta de baterias antiaéreas.
Um veículo civil foi atingido e várias pessoas ficaram feridas, segundo testemunhas.
A localidade foi bombardeada duas vezes no domingo, mas não foram registradas vítimas.
Os habitantes fugiram durante a manhã com medo de que a cidade vire um cenário de confrontos, como os registrados no fim de semana em Bin Jawad, poucos quilômetros ao oeste.
Os rebeldes ocuparam no sábado Bin Jawad, que fica no caminho de Sirte, a cidade natal de Kadhafi, mas as tropas do líder líbio recuperaram no domingo a localidade e forçara o recuo dos opositores após combates que deixaram pelo menos 12 mortos e 50 feridos, segundo fontes médicas.
"Ouvimos que os homens Kadhafi prendem e sequestram. Temos que ir agora", declarou à AFP um homem que deixava Ras Lanuf em um carro com os dois filhos pequenos.
Em Misrata (terceira maior cidade do país, entre Trípoli e Sirte), os tanques de Kadhafi bombardearam a cidade, informaram moradores no domingo. Alguns chegaram a alertar para o risco de "carnificina" sem uma intervenção da comunidade internacional.
A repressão em Misrata deixou pelo menos 21 mortos, "em sua imensa maioria civis", e 91 feridos, nove deles em estado grave.
A ONU solicitou acesso urgente a Misrata para atender as vítimas.
Nos Estados Unidos, a pressão aumentou para que o governo do presidente Barack Obama forneça ajuda militar aos insurgentes e neutralize a aviação de Kadhafi, seja com uma zona de exclusão aérea ou a destruição das pistas.
Obama advertiu nesta segunda-feira aos assessores do líder libio Muamar Kadhafi que deverão responder pela violência em seu país.
Obama igualmente afirmou que a Otan deve se reunir em Bruxelas para discutir uma reação à violência na Líbia, e indicou ter dado sua autorização a uma ajuda extra de 15 milhões de dólares para as operações humanitárias ligadas à crise.
O filho de Kadhafi, Saif al-Islam, por sua vez, afirmou que a Líbia corre o risco de virar uma "Somália do Mediterrâneo", com "piratas nas costas da Sicília, de Creta e com milhões de emigrantes".
A Itália afirmou que estabeleceu "contatos discretos" com o Conselho Nacional, para buscar uma solução à crise.
Outras iniciativas tiveram menos sucesso.
Uma pequena equipe diplomática britânica que viajou a Benghazi para iniciar contatos com a oposição deixou o país depois de ter passado por "dificuldade", informou o Foreign Office.
A oposição anunciou que se recusou a conversar com os enviados de Londres, que chegaram a ser detidos, porque eles entraram ilegalmente na Líbia.
As agências humanitárias da ONU fizeram nesta segunda-feira um pedido para arrecadar 160 milhões de dólares de ajuda para as vítimas do conflito na Líbia.
"Em resposta à atual crise na Líbia, que provocou a entrada de 191.748 pessoas nos países vizinhos como Tunísia, Egito e Níger, a ONU, a Organização Internacional para Migrações (OIM) e as agências associadas fazem um apelo regional urgente", afirma um comunicado oficial.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou o ex-ministro jordaniano das Relações Exteriores Abdelillah al-Jatib para uma missão que deve iniciar "consultas urgentes" com as autoridades líbias e fazer uma "avaliação" da situação humanitária.
A crise líbia e a onda de protestos no Oriente Médio e norte da África continuam pressionando a cotação do petróleo.
O barril de referência era negociado a 106,47 dólares em Nova York, alta de 2,05 dólares na comparação com o fechamento de sexta-feira.
O Brent do Mar do Norte registrava 59 centavos, a 116,56 dólares.
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