27/04/2010

Ex-assessor de Bush condena posição do Brasil sobre o Irã

Ex-assessor de Bush condena posição do Brasil sobre o Irã



William H. Tobey foi um dos sub-secretários do Departamento de  Energia no segundo governo Bush e no primeiro ano do governo Obama Foto:  Divulgação

William H. Tobey foi um dos sub-secretários do Departamento de Energia no segundo governo Bush e no primeiro ano do governo Obama Foto: Divulgação


William H. Tobey foi um dos sub-secretários do Departamento de Energia no segundo governo Bush e no primeiro ano do governo Obama





Uma das estrelas do Centro Belfer para o Estudo das Ciências e Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard, o professor William H. Tobey foi um dos sub-secretários do Departamento de Energia no segundo governo Bush e no primeiro ano do governo Obama.

Especializado em segurança nuclear e em métodos de não-proliferação de armas nucleares, ele foi o responsável por administrar um orçamento de US$ 2 bilhões voltado para a prevenção de roubo de material nuclear por organizações terroristas.

Foi também o responsável pela estratégia do setor em Washington nos últimos quatro anos.
Em entrevista exclusiva ao Terra ele considera "desastrosa" a posição de Brasília em relação às sanções defendidas pelas grandes economias ocidentais contra o Irã, positivo o encontro em Washington há duas semanas que reuniu líderes dos quatro cantos do globo em torno da questão nuclear, possível um ataque preventivo de Israel a Teerã, além de defender os gastos recorde com o setor nuclear anunciados este ano pelo governo Obama.

Em Harvard ele desenvolve um projeto voltado ao uso de energia nuclear para o bem-estar da população no próximo século.

Greg Mello, um notável ativista contra a energia nuclear aqui nos EUA e com formação na Universidade de Princeton, publicou em fevereiro na revista especializada Bulletin of the Atomic Scientists um artigo contundente em que aponta um paradoxo na política nuclear de Washington. Ele nos lembra que a administração Obama, ao mesmo tempo em que propaga a necessidade de se diminuir o número de armas nucleares no planeta, aumentou em 22% o orçamento para o setor nuclear interno.

O senhor concorda com Mello?


Não. O argumento de que aumentar os gastos com infra-estrutura para a manutenção do aparato nuclear - incluindo armamentos - é inconsistente com a política de desarmamento e ignora vários fatores de suma importância.

Para começo de conversa, a partir do momento em que dispomos de armas nucleares - e ninguém de fato acredita que elas desaparecerão da noite para o dia - precisamos ter certeza de que elas estão sendo mantidas de modo seguro e sim, em bom uso.

Há um imenso custo - inclusive de pessoal especializado - na manutenção das armas, na produção e aquisição de equipamento sofisticado e na criação de prédios especializados e extremamente seguros.
Mas trata-se do maior investimento do governo na área desde a Segunda Guerra Mundial.... Sim, mas estas atividades todas que eu mencionei foram negligenciadas por mais de uma década.

Os custos aumentaram, alguns prédios estão ultrapassados e precisam ser substituídos por outros com urgência.

Mais: os EUA reduziram em cerca de 80% o arsenal de armas nucleares desde o fim da Guerra Fria. E, acredite, desmantelar este arsenal também custa caro.


De forma prática, quais foram os resultados do Encontro de Washington?


O mais significativo é a compreensão dos líderes mundiais dos reais perigos do terrorismo nuclear e da responsabilidade individual, de cada um deles, de impedir esta tragédia.

Creio que vários lideres viajaram para Washington pensando em anunciar planos para aumentar a segurança nuclear em seus países, mas também pensando em não terem quaisquer incidentes nucleares a curto prazo, o que causaria enorme embaraço. Também acho positivo o anúncio de um novo Encontro na Coréia do Sul, em 2012.


O senhor escreveu que "os significados reais do Encontro, no entanto, dependem de como o ímpeto político de Washington se traduzirá em ações tangíveis nos quatro cantos do planeta".
O senhor poderia ser mais específico?


Sim. É preciso minimizar o uso de urânio ultra-enriquecido e incrementar pesquisa na conversão para a criação de combustível com baixo nível de enriquecimento.

Também precisamos melhorar a segurança física e material das usinas e assumir um compromisso real para investigar todos os casos de tráfico de material nuclear, incluindo tanto as origens quanto o destino do material, revelando quem estava envolvido na compra, venda, roubo e transporte do produto.


O senhor acredita que a Al-Qaeda está de fato tentando adquirir armamentos nucleares?
Não tenho qualquer dúvida quanto a isso.

Para sorte nossa muitas abnegadas autoridades, nos EUA e em outros países, estão determinadas a prevenir este quadro terrível.

Não se iluda, esta é a grande competição de nossos tempos.

Pelo menos três organizações terroristas tentaram ter acesso a armamento nuclear e seguem com planos de adquirí-los.
Como o senhor vê a posição do Brasil na discussão em torno do programa nuclear iraniano?

Há, afinal, o receio de que, no futuro, o Irã possa suprir grupos armados que lutam contra Israel com armas nucleares...


É desastroso que o Brasil tenha se posicionado tão decididamente contra as sanções a Teerã. Obviamente alguns países serão afetados mais do que outros, mas toda a comunidade internacional sofrerá com um Irã nucelar.

Teerã terá mais liberdade para conduzir uma política externa e militar mais agressiva no Oriente Médio, aumentando tanto as tensões quanto o preço do barril do petróleo.


O Brasil tem interesse econômico na região e o Brasil é o principal exportador de frango e carne para o Irã, mas até que ponto Brasília é importante nesta discussão?

Uma importância clara. O Brasil é um líder no que diz respeito a tecnologia nuclear, é uma das grandes economias do globo e está se tornando cada vez mais influente.

Outras nações prestam atenção na posição do Brasil, de onde buscam liderança.

E não se engane: só vamos resolver assuntos delicados como uma violação de Teerã das regras estabelecidas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se todas as nações responsáveis do planeta falarem com uma só voz.

Só assim Teerã entenderá que não se trata de discriminação ou arbitrariedade, e sim uma preocupação legítima e real das nações responsáveis do planeta.

Mas como convencer Teerã de que a preocupação das nações responsáveis não levam em conta o fato de o Irã estar cercado por países que possuem armamento nuclear, como o Paquistão, a Rússia, a Índia e mesmo Israel?

Mas para levarmos em conta esta premissa teríamos que acreditar que o Irã está, de fato, buscando desenvolver armas nucleares, o que Teerã preemptoriamente nega.

A proximidade com estes países não é justificativa para a violação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Alemanha e Japão, por exemplo, estão localizadas próximas de países com armas nucleares mas vivem em segurança porque formularam suas políticas externa e de defesa com o claro objetivo de não ameaçarem ou desestabilizarem seus vizinhos.

E o Irã segue avançando seu programa nuclear apesar do ataque a dois de seus maiores inimigos: Saddam Houssein e a Al-Qaeda, que recebia proteção dos talibãs. Nos dois lados da fronteira a situação melhorou para Teerã.

O quão ruim para o Departamento de Estado foi a decisão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de não participar do Encontro de Washington?


Israel foi representado no Encontro. A ausência do primeiro-ministro não teve grandes repercussões.

O senhor acredita ser real a chance de Israel atacar preventivamente o Irã se Teerã seguir com seu programa nuclear?



Seria difícil dizer que não, especialmente por conta do volume das ameaças direcionadas a Israel pelo presidente Ahmadinejad.

Os israelenses acreditam piamente que a posse de armas nucleares pelo Irã é uma ameaça ao Estado de Israel.

Como o senhor vê a situação na Coréia do Norte, que na semana passada anunciou que deve proceder mais um teste nuclear?

Seria o terceiro teste e, em se tratando de Pyongyang, prever ações é tarefa dificílima.

O governo Obama está determinado a não aceitar a existência de uma Coréia do Norte com armas nuclear e disposto a retomar as conversas que envolvem seis nações para se chegar a algum acordo.

Mas o que precisamos é de um investimento real da China, a principal parceira econômica da Coréia do Norte, seu único amigo real no planeta, que os ajuda financeiramente que assegure uma Península Coreana livre de armas nucleares.

E temos de levar em conta a enorme pressão sofrida pelo governo de Kim Jong-il por conta da crise financeira, inflação, execução de ministros e altos funcionários, crise de abastecimento e até demonstrações públicas de descontentamento contra um regime que escraviza sua própria população.

Nestes momentos, Pyongyang normalmente dá coice para todos os lados.



Fonte:Portal Terra-Por:Eduardo Graça -Direto de Nova York

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