30/04/2010

Fronteiras explosivas Paraguai X Brasil

Fronteiras explosivas Paraguai X Brasil

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Os últimos acontecimentos no Paraguai levaram os presidentes Lula e Fernando Lugo a marcarem uma reunião para segunda-feira, em Ponta Porã, com o objetivo de anunciar medidas diante do clima de insegurança na fronteira comum, que se estende por 800 quilômetros e é precariamente policiada. Florescem ali o tráfico de drogas e o de armas.

O que se tem no lado paraguaio é um coquetel explosivo onde entram ataques do obscuro grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP), com ligações com a narcoguerrilha colombiana Farc, e a suposta participação de pistoleiros brasileiros no atentado contra o senador Robert Acevedo, na cidade de Pedro Juan Caballero.

Eles estariam a soldo de narcotraficantes ligados à maior facção criminosa de São Paulo.

O ministro do Interior do Paraguai, Rafael Filizzola, disse ao GLOBO:

- Não dá para pensar que o tráfico transnacional opera de forma solitária no Paraguai. Há forte vinculação das Farc com o EPP e, consequentemente, vinculação da organização criminosa brasileira com a guerrilha. Temos um problema de crime organizado regional com foco transnacional.

Lula também deverá tratar com Lugo da situação de três integrantes do EPP a quem o Brasil recebeu como refugiados em 2004, e cuja extradição é pedida pelo governo do Paraguai.

Depois de uma série de crimes do EPP – atentados a bomba, sequestros de fazendeiros e assassinato de policiais -, o presidente Lugo tomou a polêmica decisão de decretar estado de exceção em cinco departamentos (estados) do centro-norte do país e de enviar para lá 1 mil policiais e militares para dar caça aos integrantes do EPP, que seriam entre 50 e 100 militantes.

Três dos cinco estados fazem fronteira com o Brasil e em toda a região vivem 300 mil brasiguaios, responsáveis por 80% da economia local, com o cultivo e a exportação de soja. Por tudo isso, a situação exige cuidadoso acompanhamento do governo brasileiro.

Os dois países têm muitos interesses em comum, a começar pela hidrelétrica de Itaipu, mas também muitas preocupações, como a segurança dos brasiguaios, a situação na Tríplice Fronteira, o contrabando em Ciudad del Leste, o comércio no de carros roubados no Brasil, o tráfico de drogas e armas etc.

O presidente Lugo, além de uma série de problemas de ordem pessoal, tem frágil sustentação política e popularidade em queda. Suas tendências esquerdistas o tornam simpático a Hugo Chávez.

Que isto não sirva de pretexto para a diplomacia brasileira recair no “companheirismo ideológico” do Itamaraty do B. Junto à fronteira do Brasil, o coquetel paraguaio – com ingredientes como narcotráfico, EPP, facção criminosa de São Paulo e contrabando – poderá produzir efeitos graves na segurança pública de grandes cidades do Sudeste do país.

O que interessa ao Brasil é uma atuação firme do governo federal junto às autoridades paraguaias para reprimir ações criminosas e terroristas na fronteira comum.

É indispensável, ainda, maior coordenação com a agência antidrogas dos EUA (DEA) para aumentar a eficiência do trabalho.

Paraguai pressiona Lula para reforçar fronteira

Senadores exigirão de presidente medidas duras para combater tráfico


Ao chegar ao Paraguai para a inauguração de uma fábrica brasileira em Pedro Juan Caballero, na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofrerá forte pressão dos parlamentares daquele país para reforçar a presença de militares na fronteira, onde uma avenida, sem qualquer vigilância, divide a cidade paraguaia de Ponta Porã, no lado brasileiro.

Vítima de um atentado no início da semana, o senador Robert Acevedo deixou ontem o hospital e começou a procurar colegas de Senado para que, juntos, elaborem documento no qual exigirão medidas mais duras por parte do Brasil no combate ao tráfico de drogas naquela área.

- Precisamos de medidas mais duras por parte do Brasil, de mais militares na fronteira – disse Acevedo. – O que está acontecendo aqui no Paraguai é que os narcotraficantes estão se organizando em consórcios. Eles acertam até os valores para liquidar uma pessoa.

Segundo informações apuradas pelo senador, matadores de aluguel receberiam US$300 mil por sua morte. Os criminosos acertaram 32 tiros no carro do parlamentar.

O segurança e o motorista que estavam com ele foram mortos e Acevedo foi atingido no braço de raspão. A suspeita recai sobre um grupo de criminosos que incluiria brasileiros.

A pedido do governo paraguaio, a PF está ajudando nas investigações. As informações sobre o andamento do caso, no entanto, são desencontradas.

Segundo a polícia paraguaia, quatro brasileiros foram detidos desde o início da semana sob suspeita de envolvimento com tráfico.

A polícia investiga se dois deles, que têm antecedentes criminais, teriam, de fato, responsabilidade sobre o atentado. Além disso, Daniel dos Santos e Josué dos Santos, presos anteontem quando entravam no país sem documentos, também foram levados para o presídio.

Já a PF afirma ter recebido informações de que seis brasileiros foram presos por suspeita de envolvimento no atentado. Levantamento do serviço de inteligência mostra que os seis já tiveram problemas com a polícia brasileira por tráfico de drogas e furto de carros, entre outros crimes.

Segundo as autoridades brasileiras, a polícia local indica que os detidos mantinham estreitos vínculos com grupos envolvidos com o narcotráfico na fronteira.

Um relatório confidencial sobre as investigações envolvendo brasileiros deverá ser encaminhado a Lula. Ontem, o presidente comandou reunião preparatória do encontro.

- (Violência) também é um tema importante. Vai ser discutido. Tanto que o ministro da Justiça estava aqui (na reunião) – disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.

Armamento de policiais perde para o do tráfico

Nas redondezas de Pedro Juan Caballero estariam grandes plantações de boa parte da maconha que é exportada para o mercado brasileiro da droga.

O governo do Paraguai colocou parte do país em estado de exceção por 30 dias, numa estratégia para tentar diminuir o poder de fogo dos guerrilheiros do Exército do Povo Paraguaio (EPP).

Em princípio, acreditava-se que o grupo estaria por trás do ataque ao senador, mas a polícia trabalha agora com a hipótese de que o parlamentar foi vítima da ação dos narcotraficantes descontentes com a atuação de Acevedo contra o comércio ilegal de drogas.

Além da falta de fiscalização na fronteira, também é preocupante o fraco aparato policial naquela área. O delegado regional de Ponta Porã, Claudineis Galinari, disse ontem ao GLOBO que os policiais brasileiros têm dificuldade para enfrentar os narcotraficantes, que usam armamento mais pesado.

Ele também afirmo que seria necessário reforçar o efetivo com pelo mais 20 homens. Atualmente, 116 policiais, em regime de turnos, são responsáveis pelo policiamento de toda a área.

- Nós não temos fuzil, por exemplo, só calibre 12 e A-40. Além disso, em alguns pontos da fronteiras chega-se a ter sete pequenas estradas, então é impossível fazer a segurança e evitar o transporte de drogas de um país para o outro – disse ele.

No fim da tarde de ontem, o Exército tomou conta das ruas centrais de Pedro Juan Caballero. Cerca de 200 homens paravam todos os carros e motos, exigiam que o motorista deixasse o veículo e conferiam documentação. Foragida da Justiça paraguaia, uma mulher que seguia com a filha no carro foi presa durante a operação.

Com autorização do governo brasileiro, a PF já ajudou nas investigações de um sequestro supostamente patrocinado por guerrilheiros do EPP, no final do ano passado.

- A Polícia Federal vai ajudar no que for necessário, mas sempre tendo em vista a soberania do Paraguai – resumiu uma das autoridades brasileiras que está acompanhando de perto as investigações sobre a tentativa de assassinato do senador Acevedo.


Conflito provoca fuga para o Brasil

Cidade fronteiriça no Mato Grosso do Sul recebe 800 famílias e pede estado de emergência



A crise de segurança pública no Paraguai começa a afetar diretamente os brasiguaios — agricultores brasileiros radicados no país — e a repercutir em cidades fronteiriças do Mato Grosso do Sul. Brasileiros e descendentes que vivem no país vizinho estão voltando, assustados com a violência associada ao narcotráfico e à ação de um grupo armado esquerdista em campanha por reforma agrária.

A prefeita de Itaquiraí, Sandra Cassone (PT), veio na segunda-feira a Brasília pedir que seja declarado “estado de emergência” na cidade, que tem 16 mil habitantes. “Ela deve retornar na semana que vem para obter uma resposta do governo federal”, disse ao Correio, por telefone, o vice-prefeito, Aldo Farina. “Está chegando muita gente nos últimos dias. Já vieram 800 famílias e a previsão é de alcançar 1.200”, completa Farina.

As famílias estão acampadas perto da BR-163, sob cobertura de lona. Farina diz que a prefeitura está ajudando na medida do possível, mas observa que “a situação é complicada”. “No mês passado, assentamos 1.234 famílias que vieram de outros municípios”, ressaltou o vice-prefeito. “Agora, boa parte vem do Paraguai, mas não conseguimos mais suportar. Estamos preocupadíssimos: não há remédio e alimentos que suportem, falta tudo!”

Zelmo de Brida, prefeito da vizinha Naviraí, diz que “não está percebendo” a chegada de mais famílias.

“Nosso município não é o mais próximo do Paraguai”, pondera. Para ele, a razão de as famílias irem para Itaquiraí pode estar ligada à política anterior de assentamentos. “Ali já tem muitos assentamentos do Movimento dos Sem Terra (MST), mas nós aqui não temos isso”, disse. Brida acrescenta que, “de momento”, não tem essa preocupação, nem planos para receber mais deslocados.

A instalação de brasileiros com fazendas no norte do Paraguai criou um desafio para os governos dos dois países, nas últimas décadas.

Na semana passada, a crise se agravou depois que o senador liberal Roberto Acevedo sofreu um atentado na cidade de Pedro Juan Caballero — os dois suspeitos detidos são os brasileiros Eduardo da Silva e Nevailton Cordeiro.

Agentes da inteligência brasileira afirmaram ao Correio que não há indícios de que os acusados estejam ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a narcotraficantes paraguaios. Cerca de 90% da maconha paraguaia é trazida ao Brasil, segundo a Polícia Federal.

Pedro Juan Caballero se une ao município de Ponta Porã (MS), e os dois somam quase 200 mil habitantes. Na cidade paraguaia, um funcionário de uma casa de câmbio, que se identifica pela inicial R., conta que na quarta-feira chegaram 150 militares para reforçar o policiamento.

“Eles estão examinando documentos das pessoas nas ruas do centro”, disse à reportagem, por telefone.

Apesar de denúncias de que algumas rádios locais estariam insuflando os ânimos da população contra os brasiguaios, R. considera que não há um clima de hostilidade. “Não é nada contra os brasileiros.

As pessoas se sentem mais seguras com mais controle nas ruas”, indica. Já os paraguaios que se dirigem ao Brasil não têm problemas para entrar em Ponta Porã. “Para nós está tudo normal”, ressalta a brasileira A., que trabalha em um hotel na fronteira.

Apesar da aparente normalidade, Ponta Porã receberá na próxima segunda-feira os presidentes Fernando Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva, que tentarão estabelecer uma política comum de segurança fronteiriça e combate ao narcotráfico.

“Esse assunto se impõe depois dos últimos acontecimentos violentos que tiveram como vítima o senador Robert Acevedo”, indicou o ex-chanceler e atual assessor da Presidência paraguaia, Hamed Franco.

Fonte: Correio Braziliense via CCOMSEX Por Viviane Vaz: O Globo via CCOMSEX

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