29/01/2011

Guardiões da Amazonia


Guardiões da Amazonia -Esquadrão Grifo

http://www.defesanet.com.br/imagens/fab/flecha_a29/bacg06.jpg

Durante muito tempo, a região amazônica foi um gigante a ser conhecido.

Com os avanços da tecnologia no decorrer dos anos, novos equipamentos permitiram que suas riquezas fossem cada vez mais conhecidas e surgiram formas viáveis de explorá-las.

Este manancial precisava ser protegido e a partir dos anos 80, as Forças Armadas brasileiras formularam planos de expansão na direção Norte.

Entre estas diversas mudanças, a Força Aérea Brasileira criou novas bases aéreas, em Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO) entre outras.

Para guarnecê-las e apoiar suas missões na região, duas unidades foram desmembradas do 7° Esquadrão de Transporte Aéreo de Manaus.

A 1ª Esquadrilha foi baseada em Boa Vista e a segunda em Porto Velho. Foram equipadas com aeronaves de transporte, notadamente o Embraer C-95 Bandeirante e o Cessna C-98 Caravan.

http://cdn-www.airliners.net/aviation-photos/middle/0/5/0/1470050.jpg
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Gj_O7uO6uiGOa2ySYnaGPpxOVDQ_MAbDprfgsWRlsn1go4_1DBK2_J0UnZvTc4A3hAKoAbttklZvaPH36VNoBsWQVZwVfA4smQ6x2K3ziLcrexBn-NXdHPLHZYOYkjnrizu1DfyQC_o/s1600/c-95a.jpg
C-95 Bandeirantes

Na década de 90, várias ações demonstraram que a região amazônica tinha entrado de vez na pauta mundial, destacando-se os resultados do encontro internacional ECO-92, que ocorreu no Rio de Janeiro.

Paralelamente às preocupações com a biodiversidade e a exploração sustentável de nosso planeta, era notória a tentativa de utilização de nosso território por grupos paramilitares e guerrilheiros de países vizinhos, assim como de elementos ligados a atividades ilícitas, como narcotraficantes, que não só o utilizavam como base mas também como rota de escoamento de sua produção de entorpecentes para regiões como Estados Unidos e da Europa.

Ficou claro para o governo brasileiro que algo tinha que ser feito, e rápido, para se proteger este patrimônio nacional e nossa soberania.

Deste contexto, surge o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), assim como seu braço operacional, o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM).

Sob a égide deste último, novos equipamentos seriam adquiridos para uso efetivo nesse teatro de operações.

http://www.defesanet.com.br/imagens/r99ab.jpg
http://www.imagemnews.com/arquivos/imagensnews/Super_Tucano-1.jpg

No que concerne a novas aeronaves para a FAB, esses planos levaram ao desenvolvimento e incorporação do E-99 (vigilância aérea), do R-99 (vigilância terrestre) e do A-29 Super Tucano (caça leve turboélice), todas projetadas e fabricadas pela Embraer.

A aquisição dessas novas plataformas aéreas - que nos anos seguintes iriam revolucionar o modus operandi da FAB, modificando a forma como a Força combatia e também trazendo o que há de mais moderno na guerra aérea, como o datalink e as armas guiadas - não foram as únicas mudanças cujas aquisições foram iniciadas na década de noventa.

Enquanto os novos vetores eram desenvolvidos, medidas imediatas necessitavam ser tomadas.

Após receber em 1993 um lote inicial de quatro aeronaves T-27 Tucano para missões de defesa aérea e COIN (Counter-In- surgency-Contra Insurgência),repetindo o que outros operadores do modelo já faziam no continente sul americano, as esquadrilhas do 7° ETA foram extintas e em seu lugar surgiram os dois Esquadrões do 3o GAV, o Escorpião (173° GAV) e o Grifo (273° GAV).

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJjByg5T3CI_iI6W8GVS3zTyJAkzl4l2uHU3Q-_d157CfEW7bHNUynn-EDnkiSx7CwStW8gndy5vDte1IpP5_9aQffJPZeQgziFa1Uqz1tmDPDSjvChWabth_Ui1DJfBA0h0yHB5_i69Q/s1600/T-27+Tucano.jpg

Essas unidades, ao contrário de suas predecessoras, já surgiram na função de combate e estavam subordinadas a aviação de ataque, como parte integrante da II FAE.

As unidades foram recebendo mais aeronaves AT-27 para permitir a dotação necessária para suas atividades e, ao final do processo, cada um dos esquadrões do Terceiro possuía 16 aviões.

Alguns anos mais tarde, uma terceira unidade equipada com o AT-27 Tucano foi incorporada ao Terceiro Grupo de Aviação, o 373° GAV - Esquadrão Flecha.

Localizada em uma área nevrálgica na defesa da região amazônica, a Base Aérea de Porto Velho teria papel de destaque dentro do SIVAM e seu braço armado, o Grifo também estava pronto para assumir esta responsabilidade.

O Esquadrão Grifo foi criado em 28 de setembro de 1995.

Portanto, acaba de completar 15 anos de existência, mas apesar de sua pouca idade já acumula uma maturidade operacional digna de nota.

Uma das mudanças significativas desde a sua criação foi que, a partir de 2001, juntamente com os demais esquadrões do Terceiro Grupo, passou a ser subordinado operacionalmente à Terceira Força Aérea (III FAE) e recebeu oficialmente a designação de unidade aérea pertencente à Aviação de Caça.

Nesses nove anos, já se sagrou duas vezes campeão do Torneio de Aviação de Caça (2002 e 2008) - o prêmio mais almejado por todas as unidades pertencentes a III FAE.

Dentre as suas novas atribuições, os Grifos cumprem todas as missões afetas a uma unidade de caça: superioridade aérea, ataque e reconhecimento e, conseqüentemente, nas várias facetas que estas três missões primárias acabam por proporcionar no dia a dia operacional, onde encontramos interceptação de aeronaves hostis, defesa aérea de ponto, escolta de outras aeronaves, ataque ao solo, apoio aéreo aproximado, reconhecimento aéreo e controle aéreo avançado.

Um novo Vetor uma Nova Visão

http://farm4.static.flickr.com/3342/3487854229_ca37708d9d.jpg

Em outubro de 2005, chegou ao esquadrão o elemento Grifo Azul, composto por dois A-29B - o FAB 5910 e o FAB 5907.

Um novo tempo se iniciava para a unidade. Depois de 10 anos, era a hora da mudança de seu vetor de combate, saindo o AT-27 e entrando o A- 29 A/B.

Essa troca trouxe para os Grifos a realidade da atual aviação de combate, e a unidade passou a contar com alguns dos itens mais modernos da FAB.


Os A-29 do Grifo, por exemplo, são dotados de sensores infravermelhos, usados em conjunto com modernos NVG (Night Vision Goggles - Óculos de Visão Noturna).

Imagem do FLIR Star Saffire do Super Tucano mostrando a assinatura infravermelha do Super Tucano.

Dentro da nova organização de treinamento da FAB, ao término da formação na Academia da Força Aérea, alguns pilotos são selecionados para o Curso de Caça no 275° GAV, sediado em Natal (RN), onde aprendem a empregar a aeronave como plataforma de armas, realizando a especialização operacional.


Após o cumprimento de uma vasta gama de missões, os pilotos que completam o curso e foram ajuizados pelo Conselho Operacional e de Instrução do 275° GAV são declarados pilotos de caça e qualificados como alas operacionais de Caça.

No primeiro ano na nova unidade, os jovens oficiais realizam missões para obtenção do cartão de voo por instrumentos e tornam- se pilotos de defesa aérea. Além disso, participam como pilotos de caça das diversas missões para a sua manutenção operacional.

No segundo ano realizam o curso de liderança de Esquadrilha de Caça, o que permite, ao final, conduzir sob seu comando até quatro aviões.

formandos então escolhem uma das três unidades do Terceiro Grupo de Aviação, onde iniciarão sua progressão operacional.

Além do excelente fator humano presente no Grifo, a chegada do A-29 trouxe consigo diversos equipamentos que auxiliam na prática do voo.

Entre eles podemos citar o equivalente a um simulador de voo, o AMT (Avionics and Mission Trainer) e diversos outros destinados a análise de voos reais, como o MDGT (Mission Data Ground Terminal), o AACMI (Autonomous Air Combat Maneuve ring Instrumation), o DVDS (Digital Vídeo Debriefing System) e o MPS (Mission Planing System).

Esses recursos são de enorme valia, pois não só analisam os voos de treinamento dos novatos, como também os voos destinados a manutenção operacional das equipagens de combate.

Simulações de ataque e manobras podem ser feitas e testadas antes mesmo de se entrar nas aeronaves, assim como a crítica pós voo permite a correção imediata de erros cometidos nos voos de instrução e de emprego de armas (simulação).

Permitir que as tripulações estejam sempre prontas para serem acionadas é uma necessidade.

O treinamento constante com esses equipamentos, que proporcionam análises críticas precisas dos voos, permite um alto nível na qualidade do treinamento ministrado.

Um conhecido ditado já menciona que se luta como se treina.

O piloto do Grifo é um caçador e suas garras têm que estar sempre prontas para uso.

Superioridade Aérea

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEQDF4UrcZc2CH2L9STAiveljSJId10WkOJSpBI_m6PAMHAeQBZM3FBeDDXLVIVwdO2Oi_c3uXzj4VePu-mnX8nJn-spfy81yfKi0h0r4zAozpZC3T-YyN582nwgpnyfkl30SFBDOY1isv/s400/esquadr%25C3%25A3o+flecha.jpg

Os A-29A/B Super Tucano permitiram à unidade efetuar com eficiência suas atribuições dentro do sistema de defesa aérea da região amazônica, sob responsabilidade do CINDACTAIV Os Grifos são altamente qualificados como pilotos de defesa aérea, fazendo parte de todo um processo gerenciado pelo Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA).

Dessa forma, eles são treinados de maneira a garantir a legalidade no cumprimento das ações a serem realizadas, respaldadas pela Lei do Tiro de Destruição "Lei do Abate".

Os pilotos seguem as instruções dos controladores para que seja feita a aproximação ao alvo e execução das medidas de policiamento do espaço aéreo, passando pelo reconhecimento a distancia, interrogação, acompanhamento, mudança de rota, pouso obrigatório e, caso necessário, chegando ao tiro de aviso e, até mesmo, ao tiro de detenção.

Os Grifos mantêm aeronaves em alerta H-24, ou seja, 24 horas ao dia, 365 dias ao ano.

Estas sempre decolam armadas para o cumprimento de suas missões, pois nunca se possui a certeza de que um acionamento é real ou se faz parte do constante treinamento imposto à unidade.

Não se espera que os Grifos lutem na arena de combate dos caças de alta performace, porém para a missão a eles atribuída - a interceptação de aviões utilizados em atividades ilícitas, em sua grande maioria pequenos monomotores a hélice - o Super Tucano é uma aeronave perfeita.

Dotada de armas de cano orgânicas, uma raridade no atual mercado de aeronaves turboélices, na forma de duas metralhadoras FN Herstal M3P de 12,7 mm (0,50 pol), ele também pode ser utilizado no combate ar-ar contra helicópteros.

Para esta última missão, assim como para autodefesa caso ocorra a necessidade, o A-29 é homologado para uso do míssil IR nacional MAA-1 Piranha.

Interdição & Reconhecimento

http://www.aereo.jor.br/wp-content/uploads/2009/03/a-29-3.jpg

As outras responsabilidades do Grifo o levam a cumprir missões de ataque ao solo e reconhecimento do terreno.

Quando ainda operava com o AT-27, os Grifos executaram missões de ataque a pistas clandestinas, utilizando foguetes SB AT 70 com cabeça antipista.

Mas a introdução do A-29 elevou a capacidade ar-solo da unidade. Aqui, o sensor infravermelho e o NVG são fundamentais para garantir operações noturnas, mas entram em cena também outros sistemas do A-29.

Em uma área de dimensões continentais como a Amazônia, com poucos pontos de referência e baixa visibilidade, a possibilidade de se executar um ataque com o apoio do CCRP (Continously Computed Release Point) e do CCIP (Continously Computed Impact Point) traz uma maior segurança ao piloto, com a redução da possibilidade de danos colaterais por erro no lançamento das armas.

Isto se reflete também nas missões de CAA (Controlador Aéreo Avançado), onde as qualidades de se operar uma aeronave com baixa assinatura termal, sonora e visual facilita no momento de localizar o inimigo, e os sistemas permitem que os alvos sejam marcados com precisão, especialmente na hipótese de existências de forças amigas nas proximidades.

As características da Base Aérea de Porto Velho levam ao limite homens e máquinas.

O característico clima quente e úmido alia-se a um ambiente extremamente inóspito e repleto de rios, topografia comum na maior parte da região amazônica.

Isso pode ser medido pelo kit de sobrevivência do piloto do Grifo, que apesar de operar a centenas de milhas do mar, inclui entre seus itens um bote inflável e kit para pesca.

Até a presente data, o A-29 tem se saído muito bem neste teatro de operações, seja na função de treinamento dos novos caçadores, seja nas atividades de linha de frente da Aviação de Caça que lhe são conferidas.

O Grifo & Mitologia

Segundo a mitologia, a lenda do Grifo surgiu na região do Oriente Médio e depois seu mito se estendeu, chegando ao subcontinente indiano e ao mediterrâneo. Possui formas ligeiramente diferentes dependendo de onde surge, sendo a mais comum a união da águia com o leão.

O que todas as lendas narram, é que sua missão é a proteção das riquezas e tesouros que lhes são confiados à guarda, sendo a mais famosa, a dos tesouros do deus grego Apolo.

O Grifo prima pela virtude, pela justiça e pela eficiência na luta, fruto das características dos dois animais principais que o originam, permitindo a ele dominar terra e céus.

Na tarde de 3 de junho de 2009, um monomotor voando a cerca de 1.500 pés de altitude, de matrícula boliviana CP-1424 e proveniente daquele país, foi detectado pelo E-99 que fazia um dos rotineiros voos de vigilância sobre a região amazônica.

Imediatamente identificando o contato como suspeito, o Guardião plotou o alvo e acionou dois A-29B do Esquadrão Grifo que se deslocaram para o local e efetuaram as medidas de averiguação e reconhecimento.

Os caças da FAB determinaram que a aeronave em voo ilícito pousasse na região de Caçoai (RO).

Embora suplicando que sua vida fosse preservada, o piloto do monomotor não atendeu às ordens emanadas dos A-29 e baixou para 300 pés.

Seguindo os procedimentos e com autorização do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, um dos A-29B do Grifo posicionou-se ao lado do monomotor e, pela primeira vez na era E-99/A-29 no Brasil, foram disparados tiros de aviso em uma interceptação real.

Ainda tentando fugir, a aeronave acabou executando um pouso em Izidrolândia, distrito de Alta Floresta D'Oeste, no interior de Rondônia.

Após o pouso, os A-29B efetuaram a vigilância do local para impedir que a aeronave decolasse novamente.

Ao chegar, a Polícia Militar, em coordenação com a Polícia Federal, apreendeu 176 quilos de pasta base de cocaína no interior da aeronave, que gerariam quase uma tonelada da droga após processada.

Posteriormente, os dois integrantes da aeronave foram presos.

As garras do Grifo haviam dado um enorme prejuízo ao narcotráfico.

O 273° GAV da Força Aérea Brasileira honrou o ser que lhe emprestou o nome.

Como o Grifo mitológico, entrou para a história e transformou-se em lenda.



Fonte:Revista Força Aérea/video:Voar News

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar e enviar seu comentário

Voar News Agradece pela sua participação