O fornecimento de refeições para aviação executiva é um dos mercados mais fechados que há.
Está em fase de grande crescimento, tem margens de lucro altíssimas e é quase impenetrável. As queixas de baixo custo-benefício também são contínuas.
Até os estrangeiros que abastecem seus jatinhos em solo brasileiro têm noção de que não faz sentido pagar uma fortuna por um kit de nozes e frutas secas exatamente igual ao que no supermercado custa, pelo menos, um quinto do preço cobrado.
Nos aeroportos brasileiros, quem tem o monopólio das refeições dos jatinhos e helicópteros é a paulista Marcia Gomes da Costa.
Sua empresa, a Marcia's Catering, entrega em Congonhas, Guarulhos, Campo de Marte, Viracopos, São José dos Campos. Fora do Estado de São Paulo, domina dois aeroportos importantes: Brasília e Belo Horizonte.
A sede fica num labirinto, nos fundos do aeroporto de Congonhas, num espaço alugado, no hangar da Líder Taxi Aéreo. Não é à toa que a empresa trabalha "24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano", como proclama a dona.
Enquanto Marcia é a única a possuir uma cozinha nas dependências do aeroporto, as dificuldades dos outros aspirantes ao negócio começam na porta de entrada.
Toda a comida que entregam nos aviões precisa passar pela segurança, o que dificulta muito o acesso.
Marcia era dentista e entrou no negócio em 1992, por sugestão do marido, o comandante Francisco Lyra, que era piloto - e que até o ano passado foi presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG).
Na época, ela conta, o marido se queixava que a alimentação dos aviões executivos chegava em tuppewares, trazida por seguranças e motoristas.
"Comecei para quebrar um galho, mas a procura foi tão grande que acabei ficando só nisso." Se no começo a sua empresa atendia somente um voo por semana, hoje atende cerca de 30 voos por dia.
Sobre os clientes, Marcia prefere não revelar nomes. Informa, genericamente, que atende de políticos a empresários, bancos, construtoras e até voos de misericórdia, que fazem resgate, tripulados por médicos, enfermeiros e acompanhantes.
Ela chega a receber solicitações às dez horas da noite para entregar refeições no raiar do dia seguinte.
Na visão da empresária, o perfil da aviação particular mudou muito nesses 20 últimos anos. "Os grandes empresários agora só usam jatos particulares, porque prospectam novas fronteiras antes da abertura de linhas aéreas comerciais."
O interesse econômico que o Brasil desperta no mundo foi outro fator que contribuiu para aumentar o fluxo de jatinhos estrangeiros. Mas é um mercado sujeito à alta do dólar, à oscilação das bolsas, à crise europeia.
Do ponto de vista interno, trocas de ministros, inaugurações de fábricas ou visitas de personalidades congestionam o movimento. "Às vezes a gente nem sabe qual é o fato, mas não tem segredo: todos os grandes empresários vão para o mesmo evento.
Se há um acontecimento em Brasília, todos querem decolar no mesmo horário e retornar ao mesmo tempo. Rotina é algo que não existe."
O cardápio de Marcia também acompanhou a transformação dos conceitos alimentares.
Foi-se o tempo em que as salas vips tinham alto consumo de salgadinhos e outras frituras.
Durante a semana quase todos estão no espírito trabalho: carnes e peixes grelhados, poucas calorias. "Algumas mulheres ligam para dizer que o marido está cuidando do colesterol, outras vezes seguimos receitas enviadas por nutricionistas.
O aumento na solicitação de frutas é assustador. Antes era um pedido mais comum no verão, hoje é durante todo o ano. Nosso cardápio é cada vez mais focado na geração saúde."
Ainda assim, uma viagem pelos sites de aviação executiva revela que os cardápios mantêm o picadinho, o escalope de filé com molho rôti, o camarão ao molho cremoso de prosecco com arroz e batata palha. Algumas empresas prometem "soluções gastronômicas" e apresentam fotos de comida capazes de acabar com o apetite de qualquer um.
Outro fato curioso é que há menus exatamente idênticos entre empresas diferentes. Ou será mera coincidência os mesmos detalhes até nas sugestões de frutas secas: "damasco recheado de cream cheese de pistache, figo seco com queijo brie e nozes, nuts caramelados em especiarias"?
Há gente que passou pelo mercado e desistiu pelas dificuldades de penetração. Para entrar é preciso conhecer alguém. "É um nicho muito fechado, no qual é preciso um investimento de 5 a 10 anos para conseguir se estabelecer.
Nunca vi nenhum dono de restaurante querendo atuar na área", diz Magno Dias, diretor técnico e comercial da Dream Fly, empresa formada por técnicos e engenheiros de manutenção aeronáuticos.
A Dream tem seis anos e atua em todas as áreas da aviação executiva: de assistência técnica para compra e venda de aviões a fretamento. O catering foi uma oportunidade que surgiu como serviço complementar, mas que hoje responde por 25% a 30% do faturamento.
Um dos clientes da empresa é a Embraer, que contrata alimentação nos voos de demonstração para venda de aeronaves a clientes estrangeiros.
"A aviação executiva está crescendo muito e, no futuro, terão mais chance aqueles que oferecerem um bom serviço sem exploração", acredita Magno. Segundo ele, há clientes que brigam por R$ 10 e aqueles que brigam por R$ 0,50, mas há que reconhecer que os preços na aviação são, regra geral, abusivos.
"Precisamos ter serviços voltados para a realidade. Basta dizer que é para a aviação e um simples adesivo passa a custar 300% mais caro."
Fonte:Valor Econômico-Por Maria da Paz Trefaut | De São Paulo
Está em fase de grande crescimento, tem margens de lucro altíssimas e é quase impenetrável. As queixas de baixo custo-benefício também são contínuas.
Até os estrangeiros que abastecem seus jatinhos em solo brasileiro têm noção de que não faz sentido pagar uma fortuna por um kit de nozes e frutas secas exatamente igual ao que no supermercado custa, pelo menos, um quinto do preço cobrado.
Nos aeroportos brasileiros, quem tem o monopólio das refeições dos jatinhos e helicópteros é a paulista Marcia Gomes da Costa.
Sua empresa, a Marcia's Catering, entrega em Congonhas, Guarulhos, Campo de Marte, Viracopos, São José dos Campos. Fora do Estado de São Paulo, domina dois aeroportos importantes: Brasília e Belo Horizonte.
A sede fica num labirinto, nos fundos do aeroporto de Congonhas, num espaço alugado, no hangar da Líder Taxi Aéreo. Não é à toa que a empresa trabalha "24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano", como proclama a dona.
Enquanto Marcia é a única a possuir uma cozinha nas dependências do aeroporto, as dificuldades dos outros aspirantes ao negócio começam na porta de entrada.
Toda a comida que entregam nos aviões precisa passar pela segurança, o que dificulta muito o acesso.
Marcia era dentista e entrou no negócio em 1992, por sugestão do marido, o comandante Francisco Lyra, que era piloto - e que até o ano passado foi presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG).
Na época, ela conta, o marido se queixava que a alimentação dos aviões executivos chegava em tuppewares, trazida por seguranças e motoristas.
"Comecei para quebrar um galho, mas a procura foi tão grande que acabei ficando só nisso." Se no começo a sua empresa atendia somente um voo por semana, hoje atende cerca de 30 voos por dia.
Sobre os clientes, Marcia prefere não revelar nomes. Informa, genericamente, que atende de políticos a empresários, bancos, construtoras e até voos de misericórdia, que fazem resgate, tripulados por médicos, enfermeiros e acompanhantes.
Ela chega a receber solicitações às dez horas da noite para entregar refeições no raiar do dia seguinte.
Na visão da empresária, o perfil da aviação particular mudou muito nesses 20 últimos anos. "Os grandes empresários agora só usam jatos particulares, porque prospectam novas fronteiras antes da abertura de linhas aéreas comerciais."
O interesse econômico que o Brasil desperta no mundo foi outro fator que contribuiu para aumentar o fluxo de jatinhos estrangeiros. Mas é um mercado sujeito à alta do dólar, à oscilação das bolsas, à crise europeia.
Do ponto de vista interno, trocas de ministros, inaugurações de fábricas ou visitas de personalidades congestionam o movimento. "Às vezes a gente nem sabe qual é o fato, mas não tem segredo: todos os grandes empresários vão para o mesmo evento.
Se há um acontecimento em Brasília, todos querem decolar no mesmo horário e retornar ao mesmo tempo. Rotina é algo que não existe."
O cardápio de Marcia também acompanhou a transformação dos conceitos alimentares.
Foi-se o tempo em que as salas vips tinham alto consumo de salgadinhos e outras frituras.
Durante a semana quase todos estão no espírito trabalho: carnes e peixes grelhados, poucas calorias. "Algumas mulheres ligam para dizer que o marido está cuidando do colesterol, outras vezes seguimos receitas enviadas por nutricionistas.
O aumento na solicitação de frutas é assustador. Antes era um pedido mais comum no verão, hoje é durante todo o ano. Nosso cardápio é cada vez mais focado na geração saúde."
Ainda assim, uma viagem pelos sites de aviação executiva revela que os cardápios mantêm o picadinho, o escalope de filé com molho rôti, o camarão ao molho cremoso de prosecco com arroz e batata palha. Algumas empresas prometem "soluções gastronômicas" e apresentam fotos de comida capazes de acabar com o apetite de qualquer um.
Outro fato curioso é que há menus exatamente idênticos entre empresas diferentes. Ou será mera coincidência os mesmos detalhes até nas sugestões de frutas secas: "damasco recheado de cream cheese de pistache, figo seco com queijo brie e nozes, nuts caramelados em especiarias"?
Há gente que passou pelo mercado e desistiu pelas dificuldades de penetração. Para entrar é preciso conhecer alguém. "É um nicho muito fechado, no qual é preciso um investimento de 5 a 10 anos para conseguir se estabelecer.
Nunca vi nenhum dono de restaurante querendo atuar na área", diz Magno Dias, diretor técnico e comercial da Dream Fly, empresa formada por técnicos e engenheiros de manutenção aeronáuticos.
A Dream tem seis anos e atua em todas as áreas da aviação executiva: de assistência técnica para compra e venda de aviões a fretamento. O catering foi uma oportunidade que surgiu como serviço complementar, mas que hoje responde por 25% a 30% do faturamento.
Um dos clientes da empresa é a Embraer, que contrata alimentação nos voos de demonstração para venda de aeronaves a clientes estrangeiros.
"A aviação executiva está crescendo muito e, no futuro, terão mais chance aqueles que oferecerem um bom serviço sem exploração", acredita Magno. Segundo ele, há clientes que brigam por R$ 10 e aqueles que brigam por R$ 0,50, mas há que reconhecer que os preços na aviação são, regra geral, abusivos.
"Precisamos ter serviços voltados para a realidade. Basta dizer que é para a aviação e um simples adesivo passa a custar 300% mais caro."
Fonte:Valor Econômico-Por Maria da Paz Trefaut | De São Paulo
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