Irã aceita mediação do Brasil para retomar acordo nuclear
TEERÃ - O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, concordou "em princípio" com uma mediação do Brasil para ressuscitar um acordo apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a troca de combustível nuclear com potências mundiais, informou a agência de notícias semioficial iraniana Fars nesta quarta-feira.
A chancelaria brasileira, no entanto, afirmou que o país não se ofereceu para mediar um acordo. "O que não quer dizer que se outros países pedirem ele (Brasil) não o fará", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores por telefone.
As potências veem o acordo como uma forma de retirar boa parte do urânio de baixo enriquecimento do Irã, o que minimizaria o risco desse material ser usado para armas atômicas. Pelo acordo, o Irã receberia combustível especialmente processado para manter funcionando seu programa de medicina nuclear.
Mas a proposta tem encontrado dificuldades por conta da insistência do Irã de realizar a troca somente em seu território, em vez de enviar o material para o exterior primeiro.
"Em uma conversa por telefone com seu colega venezuelano (Hugo Chávez), Ahmadinejad concordou em princípio com a mediação do Brasil no acordo de troca de combustível nuclear", disse a Fars, citando um comunicado divulgado pelo gabinete do presidente iraniano.
Questionado por jornalistas em Brasília sobre a declaração de Ahmadinejad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não respondeu diretamente, mas disse que "se houver possibilidade de construir junto com a agência (nuclear da ONU), junto com os países que participam do Conselho de Segurança e junto com o Irã uma proposta que seja aceita pelos dois lados, seria tudo o que o mundo precisa".
"Se o Brasil puder dar uma contribuição, pode estar certo de que nós vamos dar", acrescentou, sem dar mais detalhes. Lula visitará o Irã entre os dias 15 e 17 de maio.
De acordo com o Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reuniu-se nesta semana em Nova York com a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e com o ministro do Exterior do Irã, Manouchehr Mottaki, para tratar da questão iraniana.
Mas a assessoria de imprensa do Itamaraty desconhecia uma eventual oferta de mediação do Brasil. Ele disse que o país defende a retomada do acordo de troca de combustível nuclear.
Amorim retorna ao Brasil nesta quarta-feira.
A ideia do acordo surgiu em negociações conduzidas em outubro do ano passado pelo órgão regulador de energia nuclear da ONU, que pedia que o Irã enviasse 1.200 quilos de seu urânio de baixo enriquecimento --o suficiente para a fabricação de uma bomba se enriquecido no patamar necessário-- para a França e para a Rússia, onde seria convertido em combustível para um reator de pesquisas em Teerã, que fabrica isótopos para o tratamento do câncer.
As potências se recusaram a reescrever o acordo para atender as exigências iranianas.
Os Estados Unidos pressionam o Conselho de Segurança da ONU para apoiar uma quarta rodada de sanções internacionais contra o Irã nas próximas semanas.
O objetivo é levar o Irã a reduzir suas atividades de enriquecimento de urânio.
O Irã afirma que seu programa de energia nuclear tem o único objetivo de gerar eletricidade, mas o fato de o país não declarar atividades atômicas sensíveis para a ONU e manter as restrições às inspeções das Nações Unidas tem diminuído a confiança no exterior.
Alguns membros não permanentes do Conselho de Segurança, como Brasil e Turquia, tem buscado ressuscitar o acordo de troca de combustível na tentativa de evitar a imposição de novas sanções à República Islâmica.
O Brasil afirma ser favorável a ressuscitar o compromisso pelo qual o Irã exportaria seu urânio para outro país em troca do combustível nuclear que o país afirma ser necessário para manter seu reator em Teerã funcionando.
Não ficou claro se Ahmadinejad aceitou que a troca seja feita num terceiro país, o que representaria uma grande mudança na posição iraniana.
"Ahmadinejad também disse que as questões técnicas devem ser discutidas em Teerã", disse a Fars.
Fonte:Reuters/Video CNN por: Parisa Hafezi
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