16/08/2010

Na fila do aeroporto, ao menos estamos seguros


Na fila do aeroporto, ao menos estamos seguros


http://brucefong.files.wordpress.com/2009/02/flight-delayed.jpg

http://www.sneri.blog.br/wp-content/caos-aereo.jpg


O programa do Caseta & Planeta da segunda semana de agosto bateu duramente nas companhias aereas.

Lembrou 0 que dizem as maes - creio que todas - quando recomendam aos filhos: "Evitem as mas companhias, quer dizer ...as aereas!".

O quadro dos cassetas mostrava a frustrada tentativa dos clientes de embarcar na Tabajara Airlines, figurativa de algo que nao apenas fun cion a mal, mas tambem teima em nao buscar
soluyao para 0 problema aflitivo de quem quer viajar.


Ja e hora de começar a lidar melhor com esse trauma e elaborar algumas causas do caos instalado, que .

Mais uma vez ameaça ,talvez com contornos sinistros.

Tomara que nao. Que sejam s6 embaraços e desconfortos.

O fato é que 0 setor aéreo tupiniquim tem andado no fio da navalha desde 0 episódio da eliminação da Varig, em 2006.

Antes disso, e bem verdade, já nao andava bem.

Mas 0 equívoco da sentença de morte contra a maior empresa brasileira do setor deixou um buraco na aviação comercial brasileira que as autoridades ainda não conseguiram superar.

Como qualquer serviço publico essencial e regulado, aVarig não poderia jamais ter sido desbancada e substituida do jeito atabalhoado que 0 foi pela Agencia Nacional de Aviação Civil (ANAC) e pelo Judiciario. Lembrando: algumas revistas e alguns jornais, na ocasião, repetiam um refrão a favor do "livre mercado", concluindo que a Varig deveria ter fim por ser sinônimo de ineficiência e bancarrota, pela baderna administrativa e por suas tripulações estufadas para a quantidade de aeronaves em sua frota.

Tambem diziam que a Varig devia os tubos aos credores, sem apontar que ela tambem era (e ainda é) credora do governo.

E que era uma oligopolista agindo como se fosse uma estatal. Etc. Etc. ...

Fatos: quatro anos se passaram, e 0 domínio do mercado por duas aéreas só mudou de maos.

A qualidade do serviço não melhorou um milímetro sequer; perderam-se, porém, algumas referências do modo Varig de voar. Alem disso, desfez-se 0 mito do excesso de pessoal, que seria 0 pior defeito da companhia mais querida do Brasil, pois a relação piloto-aeronave não avançou no padrão da propalada eficiência.

Nota:os voos intercontinentais foram para a concorrência externa.

E voce sabia que 600 dos mais competentes pilotos da antiga Varig foram buscar emprego em Londres, Dubai, Hong Kong, Xangai, Mumbai e Lisboa? Sim, "exportamos" os mais experientes pilotos para 0 exterior.

0 que acharíamos de perder para 0 resto do mundo nossos 600 melhores médicos ou engenheiros? Tragedia.

Foi o que aconteceu nas barbas das autoridades.

Se 0 capital humano de uma empresa ou coletividade se vai, o que ocorre em seguida com a qualidade e confiabilidade do serviço?Isso todo mundo sabe responder.

Mas tramita um projeto de lei na Câmara que tenta alterar 0 Artigo 158 do Código da Aeronautica, a fim de permitir que se importem pilotos estrangeiros em grandes quantidades para voar em solo brasileiro.

Francamente, já fomos mais inteligentes.

Sabíamos educar e treinar brasileiros. Hoje, 0 mote é 0 corte de custos em pleno voo para, supostamente, melhorar 0 padrão financeiro das empresas aereas. Sera? A Varig quebrou devendo metade de seu passivo aos próprios trabalhadores, que aprovaram um Plano de Recuperação Judicial para injetar de volta na empresa parte desse crédito como risco.

Passaram por cima desse plano para vender ativos picados.

E quem depende do fundo de pensão da Varig passa até fome. É patente a responsabilidade das autoridades nesse processo, que ainda nos fara morrer de vergonha quando chegarem a Copa e a Olimpíada.

Se as atuais companhias São um time que joga mal, pior e o técnico, no caso a ANAC.

Abrindo 0 site da agência, vemos estatísticas estagnadas em 2008.

A ineficiência administrativa, e, no caso da Varig, também a judiciária, não tem paralelo na história da aviação brasileira.

A conclusao é paradoxal: nosso sofrido viajante reclama de mofar nas filas dos aeroportos, mas, possivelmente, está mais seguro lá do que voando como sardinha em lata.

A proposta

A proposta de autorização por 6 meses é só para instrutores. Para tripulantes de linha, a proposta é de cinco (05) anos; vamos ler com mais cuidado, e na íntegra;

2o.)- O Brasil é signatário da ICAO (Organização Internacional de Aviação Civil, na sigla em inglês) e se pauta por suas regras. Nunca - pelas regras atuais do CBA e dos RBHA's - V.Sa. iria voar com um comandante "recém saído do aeroclube".

Nem mesmo o copiloto (que tripula as aeronaves onde V.Sa. viaja como passageiro) poderia ser "recém saído do aeroclube", simplesmente por que os requisitos mínimos são infinitamente maiores do que possui de qualificação e experiência um detentor da "licença de piloto privado" (popularmente conhecida como "brevê").

Essa assertiva revela total desconhecimento da legislação em vigor e da mecânica de formação de aeronautas e aeroviários (recomendo, a esse respeito, a leitura das publicações oficiais contidas no site da ANAC - www.anac.gov. br - e de acesso gratuito ao público, principalmente o RBHA 61, que trata da qualificação de pessoal).

Posso também dizer-lhe - como aviador profissional - que "o buraco é muito mais em baixo".

Ou seja, evite-se, por favor, o "emprenhamento pelos olhos e ouvidos", que certos veículos de mídia tentam infligir ao público leigo;Se a aviação do país "travar", não será por falta de aeronautas brasileiros.

Terá travado, sim, pela inépcia do Poder Público em atacar as causas e não os efeitos dos problemas que nos afetam, por décadas a fio. "Abrir a cabeça e enxergar mais longe".

Ao contrário do que possa parecer, nós - aeronautas e aeroviários brasileiros - não temos "emprego à vontade lá fora", não!!! Temos emprego em alguns países (não nos melhores), e mesmo assim só em casos extremos, quando precisam muito e não têm de onde tirar, principalmente onde a formação ou não existe, ou é extremamente deficiente.

Não pensem que temos emprego à vontade nos EUA sem um bom "green card" e a licença do FAA, ou na União Européia, sem possuir passaporte europeu e a licença do JAA (JAR FCL). Nem pensar!!!!!

EM LUGAR ALGUM DO PLANETA nós - aeronautas e/ou aeroviários brasileiros - temos hoje o benefício de contratos de longa duração de até 05 anos.

O máximo - pelo que se sabe - é Hong Kong, onde dão até 03 anos, e mesmo assim sob denso escrutínio.

Macau costumava dar 04 anos e recentemente diminuiu para 02. China ídem.

Aqui no Brasil - historicamente, desde que o Presidente Getúlio Vargas e o jornalista Assis Chateaubriand promoveram a histórica "Campanha Nacional de Aviação" (1941; vide http://www.pabloaer obrasil.net/ albuns/pages/ CONDOR_4. htm), batizando e distribuindo aeronaves de treinamento básico, fazendo proliferar aeroclubes até mesmo pelos mais longínquos rincões do país -, temos uma estrutura de aviação geral que é a 2a. maior do Mundo, atrás apenas dos Estados Unidos da América.

Só que o Estado Brasileiro - ao ser negligente e complacente com relação a um sem-número de condições desfavoráveis ao desenvolvimento desta estrutura - permitiu que a mesma se deteriorasse, além do limite da razão.

A solução - ao contrário do que certos pretensos "liberais" possam trombetear por aí - não passa por inflação deliberada do mercado com estrangeiros e/ou fomento do arrocho salarial e de condições de trabalho. A solução - empurrada com a barriga ao longo de décadas por sucessivos governos - passa por encarar o problema de frente, atacando as causas e não o efeito, ou seja, resolvendo de uma vez por todas o "gargalo" que é o treinamento básico e intermediário.

"Liberar o mercado", da maneira como está proposto pelos parlamentares - com a concessão indiscriminada de vistos de trabalho e de convalidação de licenças, e de contratos de até 05 anos sem reciprocidade alguma - equivale a "incendiar o apartamento para matar as baratas", isso quando não esconde intenções nada nobres.

Uma delas provém da pressão, por parte de uma notória companhia petrolífera estrangeira (sócia da Petrobrás no Pré-Sal), que tenciona "importar" pilotos de helicópteros por salários mais baixos e sem benefícios sociais/laborais, o que em nada melhoraria a condição de segurança operacional. Acredite, pois pode-se recrutar gente nessas condições no estrangeiro, e a qualidade do profissional que se apresenta alí - no mais das vezes - não é nada boa.

A iniciativa desses parlamentares - em sua Santa Ignorância, Cinismo e Oportunismo - quer fazer crer que, ao inundar nosso mercado de trabalho com gente de fora, aumentariam a possibilidade, por parte de certos empregadores (provavelmente os mesmos que ora patrocinam a "original e moderna iniciativa") de obter "profissionais qualificados e experientes" por salários menores e/ou menos benefícios, destarte causando uma "flexibilização das regras trabalhistas" na marra.

Quanta ilusão e quanto desconhecimento das particularidades do mercado de trabalho aéreo / aeroviário!!! É espantoso, para dizer-se o mínimo.

Não sabem que - neste mercado - vale a máxima segundo a qual "One pays peanuts, One gets monkeys".

Piloto de linha aérea não é quebrador de pedra ou embalador de supermercado (que me perdoem os que exercem tais atividades, dignas e honestas, mas os critérios são bem outros!!!). Ídem para a linha aérea, Meus Senhores: se autorizarem da maneira que está proposta, sem acordos de reciprocidade e nem salvaguardas específicas para os processos de convalidação e garantias laborais, não espere que europeus, americanos, canadenses, australianos ou neozelandeses queiram vir trabalhar aqui...muito pelo contrário.

O atual patamar de salários & benefícios de 99% das empresas brasileiras não atrairia profissional algum do chamado 1º Mundo.

Só para dar uma idéia, certas empresas brasileiras de transporte aéreo regular não oferecem nem convênio médico a seus funcionários, que dirá outros benefícios.

Em contrapartida - e só para citar um exemplo -, empresas como Qatar Airways, Emirates e/ou Singapore Airlines custeiam até mesmo os estudos dos funcionários e de seus dependentes (até 03 dependentes por funcionário), aí incluído o ensino superior nas melhores universidades do planeta, e até a idade de 21 anos!!! Quem V.Sa. acha que "succiona", hoje, os melhores profissionais para seus quadros? Para onde iriam V.Sas., se fosse aeronauta e dispusesse dos atributos requeridos? Para o Golfo Pérsico / Ásia, ou aqui para nosso varonil país? A vingar o disparate, quem se apresentará aqui serão justamente os "enjeitados" (ex.: gente do "5o. Mundo" que - por ser oriunda de países da "Lista Negra do Terrorismo" da Coalisão, são incapazes de obter vistos para a Zona da C.E., América do Norte etc.), o lixo que o resto do planeta sempre rejeitou, por razões várias.

Étnicas, políticas, culturais, mas também - e é só o que nos importa - pelo baixo nível técnico e doutrinário, que é o que mais derruba aviões, desde que a Aviação existe.

A esse respeito, recomendo a leitura de estatísticas idôneas (e não as da imprensa amestrada brasileira), como http://flightsafety .org/.

Aí sim, Cavalheiro, V.Sa. terá todas as razões para não permitir que a Sra. Sua Mãe viaje mais de avião.

Também farei eu o mesmo, em relação à minha, se essa patifaria parlamentar acabar se criando.

Pedimos respeito pela segurança operacional. Em outras palavras: respeito pela vida, em 1o. lugar.

Fonte:Revista Época/Comentario pelo Cmt Fábio Otero Gonçalves

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