25/03/2010

Brasil prepara cápsula que poderá ficar 10 dias em voo orbital

Brasil prepara cápsula que poderá ficar 10 dias em voo orbital para a realização de experimentos em baixa gravidade.

Primeiro teste de lançamento deve ser realizado no próximo ano


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A microgravidade é uma grande aliada de estudos desenvolvidos nas mais diversas áreas, entre elas a medicina, a biologia e a biotecnologia. Por isso, o Brasil se prepara para, nos próximos anos, ser capaz de lançar ao espaço uma cápsula com a qual poderão ser realizados experimentos estratégicos em órbita de baixa altitude (cerca de 300km).

A iniciativa faz parte do projeto do Satélite de Reentrada Atmosférica (Sara), desenvolvido com tecnologia e mão de obra nacionais e gerenciado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), um dos centros de pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).

Não é de hoje que ambientes gravitacionais próximos a zero são utilizados em pesquisas.

Exemplos disso são as estações espaciais Mir e Skylab, desenvolvidas, respectivamente, pela Rússia e pelos Estados Unidos, entre as décadas de 1970 e 1980.

Segundo os cientistas, a microgravidade propicia estudos como os de novos medicamentos destinados ao tratamento de doenças diversas, como câncer e diabetes.

Além disso, a cultura de células e tecidos, no ramo da biologia, e o desenvolvimento de semicondutores, voltados para a indústria eletrônica, também podem ser beneficiados.

No Brasil, a empreitada é pioneira. Segundo o gerente do Sara e pesquisador da Divisão de Sistemas Espaciais do IAE, Luis Loures, estão previstas quatro etapas para projeto.

A primeira delas recebeu o nome de Sara Suborbital e poderá ser testada em 2010.

Nela, a cápsula será lançada acoplada a um foguete e entrará em ambiente de microgravidade, para, cerca de oito minutos depois, retornar à Terra (veja arte).

“Nessa fase, também serão desenvolvidos, entre outros fatores, a eletrônica de bordo, o conhecimento da estabilidade da cápsula em voo na atmosfera, o sistema de paraquedas, além do módulo para a realização dos experimentos”, explica Loures.

Segundo veículo

Os ensaios funcionais são de extrema importância e serão feitos quantas vezes forem necessárias para a solução de problemas, segundo o pesquisador. Isso porque dados europeus mostram que as taxas de falha de alguns sistemas podem chegar a 20%.

“No segundo veículo, ou etapa, criaremos um sistema de controle de altitude, importante para definir as posições relativas durante o voo.

Será desenvolvido ainda o motor de reentrada, que possibilitará a frenagem da cápsula em órbita, para que ela entre na atmosfera. Essa operação deverá ser feita com todo o cuidado, para que a cápsula caia no local pretendido”, diz.

De acordo com o responsável pelo projeto, o terceiro veículo atuará em escala orbital e terá capacidade de permanecer cerca de duas horas no espaço.

O quarto e último veículo será importante para o aprimoramento do escudo térmico da cápsula, além do desenvolvimento da capacidade de armazenamento de energia. “A ideia é que cada fase dure, em média, quatro anos”, afirma. Loures diz que o objetivo é chegar a uma cápsula que possa ficar até 10 dias em órbita terrestre.

O IAE conta com o apoio da empresa de engenharia Cenic, responsável pela industrialização da plataforma de lançamento. Parte da tecnologia dos próximos veículos também está em desenvolvimento.

A plataforma para controle de altitude será criada pelo projeto Sensores Inerciais Aeroespaciais (SIA), com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Já os materiais capazes de suportar altas temperaturas estão sendo criados pela Divisão de Materiais do IAE e deverão voar como experimentos na plataforma Shefex 2, sigla de um programa espacial alemão de sucesso.

O programa brasileiro pretende ser, no futuro, uma plataforma industrial orbital para a qualificação de componentes e equipamentos espaciais a um baixo custo.

“O que abre interessantes chances de negócios no Brasil e no exterior, além de realizar pesquisas em microgravidade”, afirma Loures.

Diversos estudantes também participam do projeto. Um deles é Artur Arantes, 23 anos, aluno da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Para ele, a experiência é encarada como um grande aprendizado profissional. “No momento, estou atuando nos cálculos estruturais e me sinto lisonjeado por participar de algo tão importante”, enfatiza.

Já o aluno de doutorado do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) Eduardo Henrique de Castro, 28, também auxilia na coordenação do projeto. “É uma área que tende muito a crescer e pode servir para o desenvolvimento de pesquisas de extrema importância”, avalia.


Fonte:pbrasil.wordpress/por:Gisela Cabral

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