O líder da Líbia, Muammar Gaddafi, ameaçou cortar relações comerciais com o Reino Unido e advertiu o país de que haveria "enormes repercussões" se o responsável pelo atentado de Lockerbie morresse na cadeia, disse nesta quarta-feira o diário britânico The Guardian, citando como fonte despachos diplomáticos obtidos pelo website WikiLeaks.
Abdel Basset al-Megrahi, condenado à prisão perpétua por sua participação na explosão de um avião da Pan Am que sobrevoava a Escócia, em 1988, foi libertado pelas autoridades escocesas em agosto de 2009 por razões humanitárias, já que ele estava com câncer de próstata e se acreditava que teria poucos meses de vida.
A libertação causou indignação nos Estados Unidos, porque 189 das 270 pessoas que morreram no ataque eram norte-americanas, e o fato de ele permanecer vivo vinha levantando suspeitas sobre os motivos de sua libertação.
"Os líbios disseram sem rodeios ao governo de Sua Majestade que haverá "repercussões enormes" para as relações bilaterais entre o Reino Unido e a Líbia se a libertação antecipada de Megrahi não for conduzida apropriadamente", disse o diplomata Richard LeBaron, dos EUA, em um despacho enviado a Washington em outubro de 2008.
"Ameaças específicas incluem a cessação imediata de todas as atividades comerciais britânicas com a Líbia, redução ou corte de relações diplomáticas e manifestações contra instalações do Reino Unido", disse o embaixador dos EUA Gene Cretz.
Autoridades líbias deram a entender que as atividades de diplomatas e outros cidadãos britânicos na Líbia ficariam sob risco.
O atentado contra o voo 103 não deixou nenhuma possibilidade de sobrevivência para os 259 passageiros e tripulantes do voo, uma vez que o avião foi pulverizado a 10 mil metros de altitude. Ao cair sobre Lockerbie, um povoado no sudeste da Escócia, os restos incandescentes do aparelho mataram outras 11 pessoas.
AP |
Imagem de dezembro de 2008 mostra destroços do avião da Pan Am que caiu em Lockerbie, Escócia, matando 270 pessoas |
Os habitantes do lugar estavam fazendo compras de Natal quando a explosão ocorreu. Destroços do avião foram encontrados em um raio de 130 km do local do impacto e os corpos das vítimas ficaram espalhados pelas colinas, bosques e lagos dos arredores.
Depois de 12 mil interrogatórios em 54 países realizados por investigadores britânicos e americanos, com ajuda da Interpol, a polícia internacional de cooperação policial, e a descoberta, em 1990, entre os escombros, de um fragmento de circuito de um detonador eletrônico e de Semtex, um explosivo muito potente, as autoridades da Líbia foram acusadas.
Os investigadores identificaram as fibras da roupa na qual o Semtex foi envolvido e chegaram à conclusão de que um líbio registrou uma maleta cheia de explosivos em Malta, antes da mesma ser embarcada em Frankfurt.
A Líbia negou-se a entregar à Justiça os dois líbios considerados responsáveis, o que fez com que este país fosse submetido, a partir de 1992, a sanções internacionais --embargo aéreo, militar e, mais tarde, embargo sobre os derivados do petróleo e congelamento de seus bens financeiros no exterior.
Em agosto de 1998, Washington e Londres aceitaram a ideia de julgar os dois suspeitos, Abdelbaset Ali Mohamed Al Megrahi e Amin Khalifa Fhimah, em local neutro, na Holanda, com a condição de que o processo fosse feito "ante uma corte escocesa, com juízes escoceses e segundo o direito escocês".
O julgamento, que foi realizado em uma base militar, em Camp Zeist, perto de Utrecht (centro), cedida pela Holanda ao Reino Unido, constituiu um fato único na história do direito internacional.
Um tribunal escocês condenou em 2001 Abdel Basset Ali al Megrahi à prisão perpétua, enquanto o segundo acusado, Al Amin Jalifa Fhimah, foi declarado inocente e colocado em liberdade.
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