19/12/2013

FX2 - Por que o Brasil precisa dos 36 caças?


Por que o Brasil precisa dos 36 caças? 

 "Segundo comandante da Aeronáutica, 'quando terminar o desenvolvimento, nós teremos propriedade intelectual desse avião, isto é, acesso a tudo" 

 Além de visar a substituição dos antigos jatos Mirage e incrementar os mecanismos de defesa do território nacional, a compra de 36 caças anunciada pelo governo — após mais de uma década de consultas e negociações — teve, segundo especialistas ouvidos , o objetivo, mais ambicioso, de desenvolver a indústria nacional de defesa e dar um impulso à cooperação militar sul-americana. 

 O governo decidiu pela opção preferida dos militares, os caças Gripen, da fabricante sueca Saab, por US$ 4,5 bilhões. Foram preteridas duas gigantes do setor, a americana Boeing, que tem os aviões considerados os mais modernos, e a francesa Dassault, a mais cara. 


[foto:Portal FAB]
 A longa negociação e os custos em jogo, entretanto, levaram muitos brasileiros a questionar a necessidade da aquisição. Por que o Brasil, que é um país pacífico e há mais de um século não vê conflito em suas fronteiras, precisa gastar tanto em aparato militar? - "Para continuar a ser um país pacífico, o Brasil precisa respeitar e ser respeitado", explicou o especialista em relações internacionais da Universidade Federal do ABC Giorgio Romano. - "E é por isso que o Brasil precisa ter aparato de defesa".

 Com uma fronteira de mais de 8 mil quilômetros, a maior floresta equatorial do mundo e agora uma das maiores reservas de petróleo, o país precisa, segundo especialistas, mostrar que tem o que chamaram de "poder de dissuasão".




 Indústria

Mas os interesses econômicos estratégicos por trás das compras não são menos importantes. 

 Após o anúncio surpresa da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, ressaltaram que uma das razões cruciais pela escolha foi a disposição dos suecos em transferir tecnologia. 

 Essa transferência daria impulso à indústria de defesa nacional. Segundo Saito, o conhecimento sobre a fabricação desses aviões será passado à Embraer, que vai tomar parte na montagem das aeronaves no Brasil. "Quando terminar o desenvolvimento, nós teremos propriedade intelectual desse avião, isto é, acesso a tudo", disse Saito. 

Com isso, o Brasil almeja impulsionar a sua hoje modesta indústria de Defesa, que chegou a ocupar lugar de destaque no começo dos anos 1980, no fim do regime militar, perdendo força na primeira década da redemocratização. 

 Na ocasião, o Brasil foi um grande produtor e exportador de aparato militar. 

[foto:www.jalopnik.com.br]

Um dos sucessos de venda foi o tanque Urutu. Ele foi usado, por exemplo, na invasão do Kuwait pelo Iraque nos anos 1990 e durante a Guerra do Golfo. "Aí veio a crise do petróleo entre outros fatores. 

Acabou tudo. Agora o Brasil tem uma política para retomar essa indústria. E uma série de infraestrutura vai nascer com os caças", segundo o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa. 

Para o diplomata, os caças suecos "cabem nas nossas necessidades, de um país sem conflito", e a opção fazia sentido mediante a resistência de americanos e franceses em transferir tecnologia. "O fato de ser com a Suécia também é positivo. Se fosse fechado um acordo com os Estados Unidos, haveria contestação. Se fosse com a França, também haveria contestação. Com a Suécia, só vão falar que é inferior", diz, lembrando que não se trata de uma simples compra, mas de uma decisão que pode causar movimentações nos bastidores da diplomacia internacional. 



[no mapa  - O raio de ação do novo caça da FAB , o Gripen com  de 1.300 Km de Raio de ação - foto: Poder Aéreo]

 Reflexo geopolítico 

 "A transferência de tecnologia tem um reflexo geopolítico importante", diz Romano, da Universidade Federal do ABC. - "O Brasil já não é só um país que compra (aparato militar). O Brasil já desenvolve o submarino nuclear. Agora poderá produzir caças aqui. Já não é mais um país pão e água". 

 Romano diz que - "poucos países tem poder de compra desse tamanho" e esse fator, por si, será observado por outros países, embora não necessariamente aumente o status do Brasil no sistema internacional de segurança.

 Mas para o diretor do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Samuel Soares, um dos principais reflexos pode se dar na vizinhança sul-americana. 

E não se trata nesse caso de impor respeito, mas de conquistar um mercado para os futuros caças produzidos no Brasil. "Quem sabe esse não seja o pilar de uma indústria de defesa subregional sul-americana, que pode reforçar a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que prevê isso", diz Soares. - "Além disso, com quem se coopera não se faz dissuasão", diz Soares, salientando que caso esse mercado regional se estabeleça, a tendência é um ambiente ainda mais pacífico no cenário regional sul-americano, que seria outro objetivo da política externa brasileira.


 Fonte:BBC Brasil - por:Maurício Moraes da BBC Brasil em São Paulo

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