Atrasos e cancelamento de voos da Gol põem corte de custo em discussão
Por João José Oliveira | De São Paulo
Agentes do setor da aviação civil avaliam se os atrasos e cancelamentos de voos da Gol, entre a quinta-feira e o último domingo, podem levar a companhia a rever o programa de cortes de custos visando a recuperação da lucratividade da empresa.
Para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Gol teve falhas no gerenciamento de tripulação da companhia. Por isso, a agência vai fazer auditoria nos processos da companhia, que terá que apresentar um plano de redundância (um plano alternativo) para evitar que isso ocorra novamente.
A multa estimada até agora, por falhas na prestação de assistência aos passageiros é de R$ 2,5 milhões, mas, de acordo com o diretor presidente da agência, Marcelo Guaranys, o valor poderá superar R$ 5 milhões, após a conclusão do trabalho da fiscalização.
A Gol informou ontem que, entre os dias 5 e 8 deste mês, 1,3 mil voos tiveram atrasos superiores a 30 minutos, enquanto 161 outros foram cancelados. "Os atrasos, cancelamentos e voos alternados começaram em razão das fortes chuvas que atingiram alguns aeroportos, principalmente da região Sudeste.
Tais aeroportos foram atingidos em momentos que concentravam maior operação de nossas aeronaves.
Nos dias subsequentes, como nossa malha é integrada e os aviões cumprem uma longa programação, como alguns aviões não estavam onde deveriam estar e o mesmo ocorrendo com tripulações, a questão se agravou, sendo contornada na manhã desta segunda-feira", declarou a Gol.
"Mas não deixa de ser um ponto de alerta", disse o analista do Banco do Brasil Investimentos, Mário Bernardes Junior. "Mas não vemos que haja o risco de que isso se repita a ponto de levar a Gol a voltar atrás na atual estratégia. Continuamos achando que esse é o melhor caminho para voltar à rentabilidade".
Para enfrentar o acirramento da concorrência e a pressão de custos, causada pela volatilidade cambial e pelo preço do combustível de aviação, a Gol cortou oferta de assentos e despesas operacionais.
O número de funcionários caiu de 20,5 mil no quarto trimestre de 2011 para 17,6 mil funcionários no encerramento de 2012.
Já a líder TAM cortou este ano um total de 811 o número de tripulantes na companhia, em um universo de funcionários que somam 28,6 mil profissionais, incluindo aqueles de solo.
Como resultado dos ajustes, nos primeiros nove meses do ano, a Gol apresentou balanços com recuperação de margens operacionais.
A rentabilidade sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização por assento oferecido cresceu 10,6 ponto percentual no comparativo anual, para 15,6%.
Mas o custo por assento quilômetro-voado (Cask) ficou praticamente estável com 0,2% na comparação anual, excluindo o custo de combustível.
"Há os dois problemas", disse o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Marcelo Ceriotti, sobre os problemas registrados na operação da Gol nos últimos quatro dias. "Os cortes no ano passado foram exagerados e a empresa também não conseguiu ajustar as escalas".
Segundo o sindicalista, esses fatores levaram a Gol a demandar de pilotos, copilotos e comissários de bordo uma quantidade maior de horas extras. "Mas por questões de segurança, a legislação impede que a tripulação trabalhe mais de 11 horas seguidas. E depois desse turno, o descanso tem que ser de 12 horas".
Para o consultor Fúlvio Delicato, da Delicato Consultoria, o número de empregados não é o problema, mas sim a escala.
O especialista cita medidas como a opção de fazer com que o tripulante goze o período de descanso na cidade de residência. "Além de diminuir custos de hospedagem, isso tem um efeito positivo para uma aeromoça, por exemplo, que pode descansar em casa cuidando do filho. Mas tira flexibilidade da companhia na hora de remanejar pessoal em casos de contingências, como as geradas pior aeroportos fechados por causa do clima, disse Delicato.
A Gol rebate dizendo que é a companhia aérea com o maior número de voos no mercado doméstico brasileiro. "E, justamente por ter uma malha aérea integrada, sofreu esses impactos", aponta.
Somado a isto, os aeroportos que sofreram com o mau tempo são alguns daqueles nos quais a Gol mantém intensa atividade.
A combinação desses fatores adversos refletiu no limite da jornada de trabalho e descanso de algumas tripulações.
A Gol diz que em média voa cerca de 45.000 horas/mês e tem disponíveis na tripulação a média de 50.000 horas/mês.
Em junho, a companhia anunciou o plano de encerrar a temporada com 6,4 mil voos semanais, após aprofundar a estratégia de cortar a oferta de assentos no ano em 9%.
Fonte:Valor Econômico
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