17/12/2013

COPA 2014 - Brasil está fora de cenário otimista, diz IATA


Brasil está fora de cenário otimista, diz IATA




 Por João José Oliveira | De Genebra

 A associação que representa as 240 maiores companhias aéreas do mundo e 84% do tráfego global de passageiros traçou um cenário mais otimista para aviação comercial até 2017, mas deixou o Brasil fora desse horizonte favorável. 


Para a Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata), os ganhos potenciais de eficiência obtidos com os investimentos em infraestrutura estão ameaçados por fatores como a decisão do governo de manter obrigatoriamente a estatal Infraero na operação das concessões privadas de aeroportos, pelo encarecimento das taxas aeroportuárias e pelo número de empresas, considerado elevado, disputando o mesmo mercado: as quatro TAM, Gol, Azul e Avianca. "A Infraero, um braço do governo, é um acionista que tem implicações óbvias de conflitos de interesse [na gestão dos aeroportos]", disse o presidente da Iata, Tony Tyler, ontem em Genebra.

 Ele teme que a participação direta da Infraero no terminais possa influenciar as decisões de investimento. 

 Tyler lembrou que o processo de concessão já foi pior, no começo dos leilões. "A segunda tranche de privatizações traz perspectivas de melhores resultados porque incorporou exigência para que os candidatos tenham experiência operacional em grandes terminais".

 Para a associação que representa as maiores companhias aéreas do mundo, os gargalos de infraestrutura não são o único obstáculo ao crescimento da aviação comercial no Brasil. "A estrutura regulatória não segue os padrões globais. Enquanto as tarifas das aéreas têm limites de teto, não há limites para outras taxas do setor, como as cobradas pelas concessões", disse Tyler. A cobrança de impostos como o ICMS é outro fator que reduz a rentabilidade do setor - o custo da querosene de aviação é 17% superior ao que se pratica no restante do globo. O diretor da Iata para o Brasil, Carlos Ebner, disse que as novas concessionárias estão trazendo reajustes de tarifas, que chegam a 27%: "É um fator a mais de pressão sobre o custo". 

 Na América Latina, a Iata projeta lucros agregados das empresas aéreas de US$ 700 milhões, em 2013, e de US$ 1,5 bilhão, em 2014, com margens operacionais - retorno antes de impostos e juros (margem Ebit) - de 3,1% em 2013 e de 5,1%, no ano seguinte. 

 No restante do planeta, a Iata revisou para cima as projeções de lucro das aéreas - de US$ 11,7 bilhões para US$ 12,9 bilhões em 2013. Para 2014, a estimativa subiu de US$ 16,4 bilhões para US$ 19,7 bilhões. A Iata prevê que a margem operacional média global será de 3,3% em 2013 e de 4,7% em 2014. "De maneira geral, a indústria está se movendo na direção correta, com os preços dos combustíveis ainda em patamares elevados, mas abaixo dos níveis de 2012. 

A demanda dos passageiros está crescendo a uma taxa entre 5% e 6%, dentro do histórico da indústria, em um ambiente de ganhos de eficiência operacional que estão melhorando as margens das empresas", disse Tyler. "Mas vemos para o Brasil um mercado estagnado em 2013 e provavelmente em 2014. 

A taxa de ocupação, na casa de 75%, está abaixo da média mundial", disse durante o mesmo evento o economista chefe da Iata, Brian Pearce. O economista da Iata disse que o peso do Brasil, dono de mais de 50% do mercado latino americano, puxa para baixo os indicadores operacionais na América Latina até 2014. 

A entidade projeta para região uma demanda - medida em passageiros quilômetro transportados (RPK, na sigla em inglês) aumentos de 6,5% e 8,5%, respectivamente em 2013 e 2014. Para a oferta - em assentos quilômetros voados (ASK, na sigla em inglês) - a previsão é de 4,6% e 6,5% de expansão em 2013 e 2014. 

 Apesar dos problemas conjunturais e estruturais no setor aéreo brasileiro, a Iata diz que o país é decisivo para a sustentabilidade do mercado na América Latina. "É um mercado gigantesco que voltará a crescer com mais força na medida em que a economia acelerar o ritmo", disse Tyler. 

 Conforme projeções da Iata, até 2017, o Brasil vai consolidar a posição de terceiro maior mercado doméstico do mundo, com 122,4 milhões de passageiros transportados por ano, seguindo os números americano e chinês, respectivamente, líder e vice-líder da aviação comercial mundial. Esse cenário leva em conta a entrada de 32 milhões passageiros a mais no sistema, ou uma expansão média de 6,3% anual no quadriênio 2013-2017.

 Como as temporadas de 2013 e 2014 sinalizam estagnação ou ganho marginal, as fichas das companhias aéreas estão depositadas para a demanda mais forte a partir de 2015. 

 O presidente da Iata diz que o ambiente para as aéreas no Brasil pode ser mais desafiador por causa da concorrência: "Talvez quatro companhias [disputando um mesmo mercado] seja muito". Para 2014, a Iata estima que a indústria da aviação comercial vai faturar US$ 180,10 bilhões com passageiros, US$ 30,64 bilhões com cargas e US$ 13,66 bilhões com outras fontes de receita, como venda de produtos a bordo. 

Os custos ficarão em US$ 218,5 bilhões. Conforme dados divulgados ontem pela Iata, as aéreas terão um aumento de 31% no transporte de passageiros no período de 2013 a 2017. O levantamento projeta que o número total de passageiros transportados por ano vai subir a 3,9 bilhões, ou 930 milhões a mais que em 2012. 

 O estudo da Iata Airline Industry Forecast 2013-2017 estima que a demanda deverá crescer a uma média anual de 5,4 %. Entre 2008 e 2012 a taxa foi de 4,3%.


Fonte:Valor Econômico -  Por João José Oliveira | De Genebra

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