Filmagem rara traz o mestre da aviação em atividade pioneira
Orlando Margarido
Santos Dumont: Pré-cineasta? Primeiro longa-metragem do cineasta Carlos Adriano, é um filme sobre a invenção, a memória e o afeto. Exibido na 14º Mostra de Cinema de Tiradentes, encerrada dia 29, ele mostra o pesquisador e curador Bernardo Vorobow, parceiro de Adriano, produtor de seus curtas e figura central na trajetória na Cinemateca Brasileira.
Vorobow, morto em 2009, durante a realização do documentário, comparece manipulando uma câmera digital nos Champs des Mars, em Paris.
O endereço a poucos passos da Torre Eiffel é notório por um dos voos inaugurais de Santos Dumont.
Nisso reside uma das pontas o filme. A outra cabe à postura investigativa de Adriano, que descobriu no Museu Paulista da USP um carretel com 1.339 cartões fotográficos, nos quais se vê o inventor explicando o funcionamento de seus balões ao empresário Charles Rolls, confundador da Rolls- Royce.
O artefato revelou-se um filme mutoscópio de 1901, em que imagens dispostas nesta maquineta ganham movimento. São apenas 43 segundos, suficientes para garantir o nome do percursor da aviação em outra atividade pioneira.
Adriano, artista experimental, adotou em parte uma postura mais tradicional de entrevistas para este filme, consequência de seu doutorado no tema. Mas, o fato de ouvir depoimentos não leva a um tom didático ou de mera confirmação de um achado.
O cineasta experimental Ken Jacobs e a ensaísta Nicole Brenez refltem sobre o estudo da memória e da pesquisa de modo a encaminhar o diretor a aderir à forma poética, como ele de fato faz.
O valor dos filmes compilados pelo processo found footage, ou seja, sobras de imagens abtigas, é instigado por professores como Ismail Xavier, enquanto a historiadora Solange Ferraz de Lima redimensiona as descoberta de material histórico em diferentes períodos.
Documentário estruturado em torno de fato real de uma descoberta rar, o filme também deseja firmar-se como ensaio. Reúne cenas pioneiras do cineasta de Eadweard Muybridge e George Méliès.
O realizador filma, na tela do computador, os textos explicativos sobre o material encontrado, enquanto uma voz os lê em registro adiantado. Cinema também é máquina, nos faz lembrar a engenharia do elevador que sobe ao topo da Torre Eiffel, um feito destemido para o ano de 1889.
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