Satélite vai reduzir curvas e custos
[foto:ICAO]
Por João José Oliveira | De São Paulo
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor
Pedro Scorza, diretor de operações da Gol, diz que uso de combustível cai 25%
Se as rotas traçadas pelos aviões nos céus fossem estradas, o que o Brasil inaugura no próximo dia 12 de dezembro é uma pista inteiramente nova, ligando os dois centros de maior movimento na aviação doméstica, que vai permitir uma economia de até 25% no consumo de tempo, distâncias e combustível.
Nessa data, os principais aeroportos das cidades do Rio e de São Paulo passam a usar o sistema de navegação por satélite.
O chamado Performance Based Navigation (PBN) permite às aeronaves voarem traçados mais retos, reduzindo curvas e, portanto, gerando voos mais eficientes. Isso será possível porque os aviões - que já saem das fabricantes embarcada para operar com essa tecnologia - vão poder navegar orientados pela rede de satélites que orbitam a Terra.
O processo está sendo implementado paulatinamente no Brasil.
"É o redesenho de estradas e vias aéreas que ligam aeroportos que respondem por quase metade do tráfego doméstico", diz o diretor de operações da Gol, Pedro Scorza.
A empresa, que traçou em parceria com a GE um mapa da malha aérea brasileira, foi a primeira empresa a iniciar todo o processo de certificação para operar nos novos sistemas - de definição de procedimentos e treinamento de equipes a certificação de aeronaves.
A malha aérea brasileira foi construída quando os aviões eram equipados com aparelhos analógicos e voavam orientados por informações visuais. Por isso, as rotas nos céus tinham mesmo que ser amplas, um desenho largo e repleto de curvas.
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Com localização gerada por satélites, a precisão aumenta.
Mais aviões poderão voar em uma mesma estrada, com menos tempo e espaço entre eles, ampliando inclusive as margens de segurança. "Essas vias expressas vão aumentar a previsibilidade de tempo e espaço, que ficará mais preciso", diz Scorza.
Em 2010, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) lançou testes do PBN nos terminais de Brasília e Recife. De forma gradual, os aviões habilitados foram aderindo ao sistema nesses centros. Até agora, 54 voos domésticos e 61 internacionais, além de outros 50 em fase de implantação, operam nesse modelo.
Mas é a partir de 12 de dezembro que o processo ganha maior envergadura. Ao chegar em São Paulo e Rio, o PBN passa a ficar disponível para 36,5% das 989 mil decolagens domésticas feitas no país, segundo dados de 2012.
Um voo entre São Paulo, saindo de Congonhas, e Brasília, que dura 90 minutos, terá redução potencial de 11 minutos.
De Brasília ao Rio, seriam 7 minutos a menos.
A Gol estima que poderá economizar, em cinco anos, na ponte-aérea entre Rio e São Paulo R$ 76 milhões em combustível, item que responde por 42% do custo operacional do setor.
"As aeronaves farão trajetórias muito mais retas. Subidas e descidas serão feitas em rampa constante, em um voo mais econômico, mais eficiente seguro e confortável", diz o diretor de segurança e operações de voo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Ronaldo Jenkins, ex-piloto da Varig com 47 anos de atuação no setor.
O executivo da Abear pondera, entretanto, que maior eficiência no céu demanda mais espaço no chão. Jenkins lembra que a maior parte dos aeroportos no país opera no limite da capacidade. Congonhas, em São Paulo, com capacidade para 17 milhões de passageiros por ano, já bateu nesse teto. Mesma situação do Santos Dumont, com capacidade para 9 milhões de passageiros a cada 12 meses.
"Os aeroportos terão que ter capacidade para receber mais aeronaves", disse Jenkins.
Cumbica, que já recebe mais que os 31 milhões de passageiros da capacidade, e Brasília, no limite do atendimento a 16 milhões de clientes anuais, estão recebendo investimentos que elevarão a 45 milhões e 21 milhões, respectivamente, até 2014.
O presidente da Junta de Representantes das Companhias Aéreas Internacionais do Brasil (Jurcaib), Robson Bertolossi, que representa 35 empresas estrangeiras e locais, lembra que o orçamento planejado nem sempre é investido na infraestrutura. "É público que a Infraero gastou só 48% dos R$ 9,8 bilhões que deveria ter aplicado nos aeroportos entre 1995 e 2010", disse.
Bertolossi observa que obras em pistas ainda em andamento, como em Recife, já levaram a cancelamento de voos de empresas, caso da panamenha Copa Airlines. Esta tirou um voo noturno para Recife por causa das obras que ocorrem à noite.
O coordenador geral do departamento de gestão aeroportuária da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Rafael Faria, rebate o receio de que o PBN sobrecarregue os aeroportos. "Pelo contrário", diz Faria. "Ao haver mais eficiência, haverá maior previsibilidade, tornando também mais eficiente o planejamento do uso dos terminais.
Haverá uma harmonização maior em termos de distribuição de pousos e decolagens nos aeroportos e seus respectivos pontos de apoio", disse o integrante da SAC.
Fonte:Valor Econômico - por:João José Oliveira | De São Paulo Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor
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