Cientistas se preparam para "7 minutos de terror" em Marte
A mais audaciosa missão ao planeta vermelho desde os anos 1970 está prestes a pousar.
Mas antes que os cientistas descubram se há vida no planeta vizinho, a arriscada sequência de pouso tem que dar certo.
Do topo da atmosfera até o solo, sete minutos definirão o futuro da exploração em Marte
Após oito meses de viagem interplanetária e 560 milhões de quilômetros percorridos, o jipe americano Curiosity pousará em Marte às 2h31 de segunda-feira.
O principal objetivo da missão de 2,5 bilhões de dólares — a mais ambiciosa a Marte desde a década de 1970 — é encontrar vida no planeta vermelho.
Mas tudo dependerá de um pouso bem-sucedido, previsto para durar sete minutos.
A manobra é especialmente delicada para um jipão complexo e pesado como o Curiosity – com uma tonelada, é o mais pesado já enviado a Marte. Não é à toa que os engenheiros da Nasa batizaram esse intervalo de “os sete minutos de terror”.
Não se espera descobrir uma civilização marciana – oficialmente, o objetivo da missão é “procurar pelos tijolos fundamentais que levam à formação de vida”.
Mas há grandes chances de os cientistas descobrirem que nosso vizinho foi colonizado por micro-organismos que prosperam na água salgada, poucos centímetros abaixo da superfície gelada do planeta. No fim da década de 1970, a missão Viking encheu de esperanças os cientistas ao retornar resultados “tentadores, mas absolutamente inconsistentes”, nas palavras do cosmólogo americano Carl Sagan, sobre a existência de vida no planeta vermelho. Agora, Marte será visitado por um grande laboratório móvel capaz de quebrar pedras, coletar amostrar e realizar experimentos complicadíssimos.
Se a vida existe ou já existiu em Marte, essa é a melhor chance que a humanidade já teve para descobrir.
Dez instrumentos científicos (um deles desenvolvido com a ajuda de um brasileiro), que vão desde uma estação meteorológica até um raio laser, vão escarafunchar o fundo da cratera Gale atrás de água e do passado geológico de Marte.
A região fica próxima ao equador marciano, tem 154 quilômetros de diâmetro e canais que podem ter sido preenchidos por água no passado. Bem no meio da cratera há uma montanha de 5,5 quilômetros de altura.
Suas rochas expostas podem "contar" a história do planeta. Assim como os geólogos conseguem descrever o passado da Terra ao analisar camadas de rocha, os cientistas da Nasa esperam conseguir o mesmo em Marte.
Única chance - Contudo, nada disso será concretizado se a sequência de pouso der errado.
A Nasa já conseguiu enviar várias missões à superfície de Marte com sucesso, mas nenhum dos veículos e laboratórios que estão em operação tem o peso e a complexidade da nova missão. Por isso, não será possível aproveitar os airbags desenvolvidos para o Pathfinder (1997) e os jipes Spirit e Opportunity (2003) ou os foguetes usados com sucesso pelas missões Phoenix (2007) e Viking (1975).
Entenda como será a sequência de pouso:
A operação de pouso vai começar às 2h24 da manhã de segunda-feira. “A partir desse momento o Curiosity entra em modo automático e executará sozinho uma série de tarefas, uma depois da outra”, explica Matt Wallace, engenheiro responsável pelo sistema de voo do Curiosity, que trabalha desde 1990 no JPL, a fábrica de robôs da Nasa. Se qualquer uma delas der errado, o jipe vai se espatifar no chão. “Não há ‘plano B’. O sistema tem que funcionar”, diz. “Não é possível voltar à órbita e tentar outra sequência de pouso. Só temos uma chance.”
Guindaste aéreo - A espaçonave carregando o Curiosity entrará na atmosfera de Marte a uma velocidade impressionante: 20.000 quilômetros por hora.
Por causa do atrito com a atmosfera, os cientistas desenvolveram um escudo térmico que vai proteger a nave nessa fase. Um gigantesco paraquedas vai então se abrir e reduzir a velocidade da cápsula até 320 quilômetros por hora, ainda rápido demais para o pouso.
Nesse momento, a espaçonave vai abandonar o escudo térmico para abrir um campo de visão para os radares do Curiosity.
Uma vez determinada a localização, o Curiosity vai se desligar da espaçonave e de seu paraquedas. Uma série de foguetes reversos entrará então em ação para impedir que nave, paraquedas e jipe se choquem.
Na etapa seguinte, os radares do Curiosity vão identificar exatamente o local de pouso.
A 20 metros do chão, um cabo de 6,5 metros descerá o jipe da plataforma de foguetes, até que toque gentilmente o chão. A parafernália recebeu o apelido de “skycrane”, algo como um “guindaste aéreo”.
Essa medida é necessária para impedir que os foguetes, caso se aproximem demais do chão, levantem uma nuvem de poeira capaz de danificar os instrumentos científicos.
Quando o computador de bordo reconhecer que o jipe está no chão, o cabo será cortado e os foguetes levarão o guindaste aéreo para longe.
Se tudo der certo, nessa hora o Curiosity enviará um sinal para casa avisando que chegou bem.
Sete minutos de terror
Existem tantas coisas que podem dar errado durante a sequência de pouso (muito mais do que em missões anteriores), que é de se perguntar como uma solução assim recebeu sinal verde da Nasa. “É, sem dúvidas, a parte mais desafiadora da missão”, diz Wallace. “No entanto, o sistema é robusto e fizemos tudo o que podíamos para ele não nos decepcione”, diz o engenheiro.
O responsável pelo voo do Curiosity explica que os cientistas não poderão interferir na sequência de pouso porque não é possível controlar uma espaçonave em Marte em tempo real. “Um comando enviado a partir da Terra leva 14 minutos para chegar a Marte e o mesmo tempo voltar ao nosso centro de controle”, diz. Ou seja, com um atraso de 28 minutos é impossível guiar a espaçonave durante uma operação que leva "sete minutos de terror": quando os cientistas receberem a confirmação de que a espaçonave tocou o topo da atmosfera marciana, ela já estará no solo a pelo menos sete minutos. Intacta ou destruída.
Futuro
O sucesso do Curiosity não apenas pode desvendar o mistério da vida em Marte, mas abrir caminho para uma futura colonização humana.
Wallace acredita que é uma questão de tempo e dinheiro. “Marte é nosso vizinho mais próximo, e há muitas similaridades com a Terra. É verdade que a exploração espacial depende de dinheiro, tecnologia e muitos outros fatores, mas o interesse em conquistar o planeta vermelho está sempre presente. Se não for a nossa geração, será a de nossos filhos, ou netos e assim por diante.”
Veja o Infográfico e entenda melhor a missão Curiosity :http://veja.abril.com.br/infograficos/curiosity/
Fonte :Revista Veja online/fotos:http://veja.abril.com.br
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