05/08/2012

Cientistas se preparam para "7 minutos de terror" em Marte


Cientistas se preparam para "7 minutos de terror" em Marte 

Missão vai tentar descobrir se há vida em Marte, mas primeiro precisa vencer a complicada sequência de pouso


 A mais audaciosa missão ao planeta vermelho desde os anos 1970 está prestes a pousar. 

Mas antes que os cientistas descubram se há vida no planeta vizinho, a arriscada sequência de pouso tem que dar certo. 



Do topo da atmosfera até o solo, sete minutos definirão o futuro da exploração em Marte Após oito meses de viagem interplanetária e 560 milhões de quilômetros percorridos, o jipe americano Curiosity pousará em Marte às 2h31 de segunda-feira.

 O principal objetivo da missão de 2,5 bilhões de dólares — a mais ambiciosa a Marte desde a década de 1970 — é encontrar vida no planeta vermelho.

 Mas tudo dependerá de um pouso bem-sucedido, previsto para durar sete minutos.

 A manobra é especialmente delicada para um jipão complexo e pesado como o Curiosity – com uma tonelada, é o mais pesado já enviado a Marte. Não é à toa que os engenheiros da Nasa batizaram esse intervalo de “os sete minutos de terror”. 

Não se espera descobrir uma civilização marciana – oficialmente, o objetivo da missão é “procurar pelos tijolos fundamentais que levam à formação de vida”. 

Mas há grandes chances de os cientistas descobrirem que nosso vizinho foi colonizado por micro-organismos que prosperam na água salgada, poucos centímetros abaixo da superfície gelada do planeta. No fim da década de 1970, a missão Viking encheu de esperanças os cientistas ao retornar resultados “tentadores, mas absolutamente inconsistentes”, nas palavras do cosmólogo americano Carl Sagan, sobre a existência de vida no planeta vermelho. Agora, Marte será visitado por um grande laboratório móvel capaz de quebrar pedras, coletar amostrar e realizar experimentos complicadíssimos. 

Se a vida existe ou já existiu em Marte, essa é a melhor chance que a humanidade já teve para descobrir. Dez instrumentos científicos (um deles desenvolvido com a ajuda de um brasileiro), que vão desde uma estação meteorológica até um raio laser, vão escarafunchar o fundo da cratera Gale atrás de água e do passado geológico de Marte.

 A região fica próxima ao equador marciano, tem 154 quilômetros de diâmetro e canais que podem ter sido preenchidos por água no passado. Bem no meio da cratera há uma montanha de 5,5 quilômetros de altura. 

Suas rochas expostas podem "contar" a história do planeta. Assim como os geólogos conseguem descrever o passado da Terra ao analisar camadas de rocha, os cientistas da Nasa esperam conseguir o mesmo em Marte. Única chance - Contudo, nada disso será concretizado se a sequência de pouso der errado. 

A Nasa já conseguiu enviar várias missões à superfície de Marte com sucesso, mas nenhum dos veículos e laboratórios que estão em operação tem o peso e a complexidade da nova missão. Por isso, não será possível aproveitar os airbags desenvolvidos para o Pathfinder (1997) e os jipes Spirit e Opportunity (2003) ou os foguetes usados com sucesso pelas missões Phoenix (2007) e Viking (1975).

Entenda como será a sequência de pouso:



 A operação de pouso vai começar às 2h24 da manhã de segunda-feira. “A partir desse momento o Curiosity entra em modo automático e executará sozinho uma série de tarefas, uma depois da outra”, explica Matt Wallace, engenheiro responsável pelo sistema de voo do Curiosity, que trabalha desde 1990 no JPL, a fábrica de robôs da Nasa. Se qualquer uma delas der errado, o jipe vai se espatifar no chão. “Não há ‘plano B’. O sistema tem que funcionar”, diz. “Não é possível voltar à órbita e tentar outra sequência de pouso. Só temos uma chance.” Guindaste aéreo - A espaçonave carregando o Curiosity entrará na atmosfera de Marte a uma velocidade impressionante: 20.000 quilômetros por hora. 

Por causa do atrito com a atmosfera, os cientistas desenvolveram um escudo térmico que vai proteger a nave nessa fase. Um gigantesco paraquedas vai então se abrir e reduzir a velocidade da cápsula até 320 quilômetros por hora, ainda rápido demais para o pouso. 

Nesse momento, a espaçonave vai abandonar o escudo térmico para abrir um campo de visão para os radares do Curiosity. Uma vez determinada a localização, o Curiosity vai se desligar da espaçonave e de seu paraquedas. Uma série de foguetes reversos entrará então em ação para impedir que nave, paraquedas e jipe se choquem. 

Na etapa seguinte, os radares do Curiosity vão identificar exatamente o local de pouso.

 A 20 metros do chão, um cabo de 6,5 metros descerá o jipe da plataforma de foguetes, até que toque gentilmente o chão. A parafernália recebeu o apelido de “skycrane”, algo como um “guindaste aéreo”. 

Essa medida é necessária para impedir que os foguetes, caso se aproximem demais do chão, levantem uma nuvem de poeira capaz de danificar os instrumentos científicos. 

Quando o computador de bordo reconhecer que o jipe está no chão, o cabo será cortado e os foguetes levarão o guindaste aéreo para longe. 

Se tudo der certo, nessa hora o Curiosity enviará um sinal para casa avisando que chegou bem. 




Sete minutos de terror

 Existem tantas coisas que podem dar errado durante a sequência de pouso (muito mais do que em missões anteriores), que é de se perguntar como uma solução assim recebeu sinal verde da Nasa. “É, sem dúvidas, a parte mais desafiadora da missão”, diz Wallace. “No entanto, o sistema é robusto e fizemos tudo o que podíamos para ele não nos decepcione”, diz o engenheiro. 

 O responsável pelo voo do Curiosity explica que os cientistas não poderão interferir na sequência de pouso porque não é possível controlar uma espaçonave em Marte em tempo real. “Um comando enviado a partir da Terra leva 14 minutos para chegar a Marte e o mesmo tempo voltar ao nosso centro de controle”, diz. Ou seja, com um atraso de 28 minutos é impossível guiar a espaçonave durante uma operação que leva "sete minutos de terror": quando os cientistas receberem a confirmação de que a espaçonave tocou o topo da atmosfera marciana, ela já estará no solo a pelo menos sete minutos. Intacta ou destruída.

 Futuro 

 O sucesso do Curiosity não apenas pode desvendar o mistério da vida em Marte, mas abrir caminho para uma futura colonização humana. 

Wallace acredita que é uma questão de tempo e dinheiro. “Marte é nosso vizinho mais próximo, e há muitas similaridades com a Terra. É verdade que a exploração espacial depende de dinheiro, tecnologia e muitos outros fatores, mas o interesse em conquistar o planeta vermelho está sempre presente. Se não for a nossa geração, será a de nossos filhos, ou netos e assim por diante.”


Veja o Infográfico e entenda melhor a missão Curiosity :http://veja.abril.com.br/infograficos/curiosity/

Fonte :Revista Veja online/fotos:http://veja.abril.com.br

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