19/04/2011

Céus Abertos para Quem?

Céus Abertos para Quem?


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Por -Respicio Espirito Santo

http://www.dw-world.de/image/0,,6451707_1,00.jpg Sempre fui e sempre serei favorável à concorrência direta entre empresas aéreas. Tanto no âmbito doméstico como no internacional, um ambiente onde exista a maior concorrência possível é sempre bem-vindo.

Contudo, há de se atentar para que a concorrência não desande para a predação ou, pior, para a autodestruição das próprias concorrentes.

Assim, é por esses e por outros motivos que sou a favor dos céus abertos, desde que implementados por uma fase de transição razoável para adaptação de todas as partes envolvidas, inclusive pela parte do órgão regulador/fiscalizador, pela parte dos administradores aeroportuários e pela parte dos entes provedores de navegação aérea e controle de tráfego aéreo.

Mas será que a tão importante concorrência teoricamente aberta pelos céus abertos pode, de fato e na prática, existir? Bem, esta já é uma longínqua ilusão…

Hoje o mundo da aviação comercial atravessa mais uma onda de fusões e aquisições.

Como se não bastassem, as alianças internacionais estão cada vez mais fortes, mais poderosas tanto econômica como politicamente. E são exatamente estes dois fatos – fusões e aquisições + alianças internacionais cada vez mais poderosas – que podem limitar sobremaneira a tão desejável concorrência em âmbito internacional (onde os céus abertos deveriam funcionar).

Fusões e aquisições (F&A): ondas de F&A sempre existiram na aviação comercial. Desde os primórdios do desenvolvimento da atividade, empresas aéreas se fundem umas com as outras, adquirem umas às outras.

O mesmo também sempre ocorreu com os fabricantes de aeronaves. Em ambos os casos o leitor pode fazer uma breve pesquisa na Internet e (re)lembrar as dezenas e dezenas de empresas aéreas existentes no Brasil, nos EUA e na Europa nas décadas de 60 e 70.

Idem para os fabricantes de aeronaves, em especial na América do Norte e da Europa. O leitor também poderá verificar que a extensa maioria das empresas – aéreas ou fabricantes – já não existe mais…

E o que isso tem a ver com os céus abertos e a concorrência? Tudo!…

Com um número menor de empresas aéreas há – inevitavelmente – um menor leque de possibilidade de escolha por parte dos passageiros e dos agentes de carga.

E um menor número de concorrentes leva – também inevitavelmente – a preços de passagens e de espaços de carga mais ‘salgados’. Aliás, isso é mais do que normal em qualquer atividade econômica que seja. Contudo, o agravante é que – alem de menos opções e preços mais ‘inchados’ – temos também um menor número de empresas para aeronautas e aeroviários trabalharem; temos (como passageiros) um leque muito menor de tipos de serviço (em todos os níveis); temos um menor ímpeto por parte dos executivos destas empresas (cada vez mais poderosas) em inovar, em recriar, em questionar, em criticar, em serem diferentes… em resumo: com menos empresas aéreas no mercado, temos menos concorrência…

OK, mas esta nova onda de F&A pode acabar e uma outra onda de novas entrantes pode ocorrer. Sim, claro, mas cada vez mais isto será mais difícil. E aí entram as alianças internacionais para dificultar ainda mais a história e limitar o sucesso dos céus abertos.

Alianças internacionais: as alianças só existem porque ainda há no mundo da aviação comercial uma limitação ideológica quanto ao capital estrangeiro em empresas aéreas. Aliás, aqui no Brasil somos um dos países mais atrasados neste quesito! Conseguimos ter um máximo permitido de capital estrangeiro nas nossas empresas que é menor que o permitido na socialista China! Mas voltando às alianças: elas existem porque o Grupo Lufthansa (no qual várias empresas aéreas de diferentes países europeus estão aglutinadas) ainda não pode adquirir o controle da United/Continental (olhem aqui uma fusão recente!), a Qantas não pode adquirir o controle da American (hoje fruto da fusão entre a própria e a TWA e outras menores) e a Gol/Varig (aquisição recente aqui no Brasil) não pode adquirir o controle da COPA.

Por isso é que a Star Alliance cresce sem parar no número de integrantes, seguida à distância pela SkyTeam e a oneworld. São aeronaves compartilhadas via code -share, check-ins e totens de auto-atendimento em comum, salas VIP compartilhadas, programas de fidelidade complementares e muito mais.

As parcerias são fortes e têm por objetivo principal a redução dos custos operacionais e a racionalização de capacidade e espaços em aeroportos.

Claro, há vantagens para passageiros e agentes de cargas, mas isso é uma mera consequência (muito bem trabalhada e bastante “aumentada” pelo marketing e PRs das empresas, claro!) dos objetivos anteriores.

Aliás, se o leitor — pensando como um passageiro comum — avaliar sob uma lente a mais neutra possível as mais diveras situações que pode experimentar sb os “efeitos” de uma grande aliança, não raras vezes pode se deparar com mais prejuízos que vantagens quando o assunto é preço, qualidade de serviços, opções distintas e possibilidade de escolha.

Isso posto, o leitor acredita que realmente pode existir alguma forma de concorrência em preços e serviços que seja direta, real, forte, consistente, entre as parceiras de uma aliança? Ora, se assim existisse não seria uma aliança e as empresas não seriam parceiras!

Assim, é inequívoco que quanto mais o mundo mergulhar em F&A e quanto mais as alianças internacionais se fortalecerem, menos concorrência haverá e menos os céus abertos funcionarão…

Neste ponto (e sem desmerecer as integrantes das grandes alianças), a minha torcida é que para modelos de negócio como o da Emirates (que tem o Emirado de Dubai como um dos seus fundamentos… ou vice-versa!), o da Etihad (ali bem ao lado, em Abu Dhabi) e os modelos ‘alternativos’ das low-cost Southwest, Ryanair, easyjet, JetBlue, Spirit, Westjet, Volaris, VivaAeroBus, Jazeera, Gol, Azul, Webjet, entre outras, cresçam e floresçam cada vez mais nas ligações domésticas e internacionais.

E tendo como fundamentos a nossa necessidade (como clientes) de melhores serviços, de mais opções de escolha, de um contínuo fluxo de inovações, que novas empresas — com modelos de negócios inovadores, desafiadores — tenham meios para entrar no mercado e igualmente se tornarem vencedoras.

Aliás, sem estes acima, os céus só estarão ‘abertos’ se depender de boas condições meteorológicas.


Fonte:Panrotas -Por:Respicio Espirito Santo

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