Seis meses após criar a Azul, David Neeleman comemora a conquista do terceiro lugar no mercado e prepara uma fase de expansão mais tímida
Há seis meses, partia de Campinas o primeiro voo da Azul, a caçula do setor de transporte aéreo brasileiro, com destino a Salvador. Dentro da aeronave, David Neeleman, fundador e dono da companhia aérea, a terceira que criou em sua vida. Hoje, ainda dividido entre o trabalho no Brasil e a família nos EUA, Neeleman afirma que nem mesmo a crise afetou significativamente seus resultados, ao contrário do que aconteceu com as concorrentes.
A prova disso: com participação de 4,16% no mercado doméstico brasileiro, a empresa assume pela primeira vez o posto de terceira maior companhia do País, logo à frente da WebJet. Com quase 80% de ocupação, muito acima do índice máximo de 62% das três concorrentes diretas (TAM, Gol e WebJet), a Azul aparentemente tem sido menos afetada pela retração no tráfego aéreo. Segundo Neeleman, há dois motivos para isso.
O primeiro são os aviões da Embraer que compõem sua frota. O executivo lembra que, por ser menor, tem custo operacional mais baixo e, portanto, as passagens podem ser mais baratas. "Além disso, para ter 80% de ocupação, eu preciso de apenas 80 passageiros. Já no caso dos Airbus da TAM ou dos Boeing da Gol e da WebJet, é preciso ter muito mais gente viajando para chegar a esse número", diz Neeleman, em entrevista à DINHEIRO.
"Nosso custo por viagem representa apenas metade do custo dos nossos concorrentes", comemora. O outro motivo apontado por ele para o bom desempenho é que, operando a partir de Campinas, e com preços mais baixos, a Azul tem incluído novos consumidores ao sistema de transporte aéreo. "Hoje, entre 70% e 80% de nossos passageiros nunca tinham viajado de avião antes", diz com orgulho. "O volume de passageiros no Brasil não está crescendo, mas nós estamos. Não estamos roubando clientes dos concorrentes, estamos criando os nossos", diz.
Para este ano, Neeleman espera consolidar a posição que atingiu nesses primeiros seis meses de operação. Com 11 aviões em operação e 11 destinos, o crescimento no segundo semestre será, segundo ele próprio, "bem mais lento". Até dezembro, a empresa deve receber mais quatro aeronaves. "Com elas, vamos abrir as rotas que tínhamos planejado para o Santos Dumont (o aeroporto central do Rio de Janeiro)", diz ele.
"Fora isso, cresceremos menos. É o momento certo de desacelerar e melhorar um pouco a tarifa média", afirma Neeleman. Segundo ele, a companhia está bem próxima do lucro. "Até o fim do ano certamente já estaremos lucrando", comemora.
"É o momento de desacelerar um pouco e melhorar a tarifa média que praticamos"
DAVID NEELEMAN, FUNDADOR E DONO DA AZUL
Os novos clientes são atraídos pelos preços - muitas vezes inferiores ao valor de uma passagem de ônibus para o mesmo trecho. Mas até quando manter essa política, perguntam especialistas. "O crescimento da Azul não é surpresa, pois ela tem buscado consistentemente a estratégia de comprar participação no mercado", diz André Castellini, analista de aviação da Bain & Company.
"A tendência para a Azul é continuar a elevar sua participação de mercado, pois ela tem hoje uma tarifa média que é cerca de 50% daquelas praticadas por TAM e Gol. Mas isso não é sustentável e, mais para a frente, vão ter que elevar os preços. A questão é saber o que vai acontecer quando a Azul tiver que adotar tarifas mais elevadas", acrescenta. De certa forma, a empresa já ensaia algum tipo de mudança nesse departamento.
Recentemente começou a oferecer uma segunda classe de tarifas que, embora um pouco mais cara, possibilita remarcação, cancelamento e alterações sem a cobrança de taxas - que na concorrência podem superar a R$ 500, segundo Neeleman. "Nós preferimos investir nesse tipo de proposta para encher nossos aviões e melhorar o resultado dessa forma", diz ele. "Para mim, essas coisas são óbvias." Um dos próximos objetivos, revela, é parcelar o pagamento de suas passagens para consumidores da classe C, "pessoas que não têm acesso a cartões de crédito".
Ainda assim, às vezes ele encontra alguns problemas. Sua ideia de oferecer tevê ao vivo nos voos - "para que as pessoas possam ver a novela e o jogo de futebol", como ele mesmo diz - está empacada por motivos técnicos. "Mas isso já está sendo resolvido. Até o fim do primeiro trimestre do ano que vem, já teremos a tevê ao vivo nos aviões", afirma, imaginando quantos novos passageiros poderá trazer para o sistema de transporte aéreo com isso.
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Fonte: José Sergio Osse (IstoÉ Dinheiro) - Foto: Ag.IstoÉ
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