Piloto conta como foi ataque israelense à usina nuclear no Iraque
Sugestão: Eduardo Nicácio
Em 1981, Israel reduziu a pó o reator nuclear de Osirak, no Iraque. Relik Shafir foi um dos oito pilotos que dispararam as bombas contra o alvo.
A ação marcou o término do programa atômico que Saddam Hussein desenvolvia em segredo.
Especula-se, agora, que um ataque semelhante possa ser empreendido por Israel contra o rival Irã.
Em 1980, eu e outros pilotos ficamos três semanas nos EUA para testar um novo tipo de avião, o F-16. A cada dez anos é feita uma reciclagem, então achamos que era apenas rotina.
Um piloto de combate leva oito meses para aprender a manejar um novo avião, mas logo percebemos que não tínhamos esse tempo. Sem saber de nada, começamos a treinar ataques em longas distâncias a alvos superprotegidos. No meio do treinamento, soubemos que a pressa do comandante da Aeronáutica tinha a ver com o ataque ao reator iraquiano. Tínhamos seis meses.
Treinamos as distâncias mais longas possíveis, fomos até um pouco além do local do reator [a cerca de 1.000 km], no limite do combustível de que dispúnhamos.
Àquela altura, o mundo não sabia que o Iraque tinha um reator nuclear.
Os dez pilotos escolhidos para a missão eram dos poucos a saber. Depois de meses de treinamentos e centenas de simulações, quando o dia chegou, estávamos preparados.
Foi escolhido um domingo, para evitar baixas entre os franceses, que construíram o reator. A hora deveria ser perto de escurecer. Se um avião fosse derrubado, seria mais fácil resgatar o piloto na escuridão.
Cada um recebeu uma quantia em dinheiro iraquiano para o caso de ser derrubado. O horário tinha outra função: se houvesse uma perseguição, os aviões inimigos voariam contra o sol.
O medo não era só ser atingido. Uma batalha aérea seria o fim. Não tínhamos combustível suficiente.
No dia 7 de junho de 1981, às 16h, decolamos da base de Etzion [sul de Israel]. Seriam oito aviões.
GRITO NO COCKPIT
Se a defesa iraquiana atingisse um ou mais, os demais completariam o ataque. Passamos por dois países inimigos [Jordânia e Arábia Saudita], e o trajeto foi cuidadosamente estudado para evitar ao máximo os radares.
Voamos baixo, a 50 pés [15 m]. O voo de uma hora e meia foi sem problemas. Ao nos aproximarmos, avistei com clareza: de um lado, Bagdá, do outro, o reator de Osirak.
Assim que ganhamos altura, ficamos sob intenso ataque da artilharia antiaérea. Mas, nesse ponto, estávamos sobre o reator, e virou assunto pessoal de cada piloto: liberar as duas bombas de uma tonelada e acertar o alvo. Só uma não acertou.
Em 60 segundos, tudo estava acabado. Dei um grito no cockpit. No primeiro momento, a sensação é de dever cumprido, de orgulho pela missão histórica e de alegria de ter escapado vivo. Depois vem uma sensação de vazio, anticlímax: uma hora e meia sem acontecer nada, voando baixo.
Quando cheguei em casa, contei à minha mulher: atacamos o reator no Iraque. Ela respondeu: que reator? Ninguém sabia de nada. Dois dias depois, o mundo todo soube quando o [então] premiê Menachem Begin anunciou o ataque.
Não havia o medo de provocar uma guerra, como existe hoje com o Irã. Foi uma operação cirúrgica, e na época ninguém sabia que o Iraque construía um reator.
Com o Irã, a história é totalmente diferente. Para começar, a distância é bem maior [1.700 km]. Além disso, os iranianos aprenderam a lição do ataque a Osirak. Espalharam as instalações pelo país e as protegeram em bunkers subterrâneos. Não é possível eliminar o programa com um só ataque, como fizemos no Iraque.
Só a aviação americana é capaz de uma operação dessas, porque seria necessário ficar lá algumas semanas, destruir a aviação iraniana e efetuar vários bombardeios para perfurar os bunkers.
Israel tem uma aeronáutica tática, não estratégica. Não temos aviões de bombardeio B1, B2, B52, capazes de levar grandes quantidades de munições e viajar longas distâncias.
Não é que não causaríamos danos. Mas para eliminar o programa nuclear iraniano, só os EUA.
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