28/01/2011

Fatores Humanos & Segurança de voo

Fatores Humanos & Segurança de voo


NOTA: Dizem que as novelas imitam cenas da vida real e de fato as cenas a seguir parecem ficção ,mas na verdade esta ligada ao dia a dia de muitos pilotos e companhias aéreas pelo mundo a fora.

Lanço aqui uma pergunta : quantos dos Senhores leitores, pilotos ou não ,já se depararam com tal situação,lógico não quero aqui dizer que ,a ponto de se envolverem em um acidente ,mas sim em relação ao stress causado pela pressão ,pelas noites mau dormidas,pelos fatores psicológicos envolvento questões familiares,erros de procedimentos e fadigas ... sim ,não só pilotos vivem com esta realidade .Pressões ,Fadica ,Stress-estão relacionados diretamente aos incidentes e acidentes do nosso dia a dia.

O fato é como eliminar ou minimizar tais fatores ,como gerenciar os riscos pois muitas vezes somos obrigados a conviver com tais riscos ,e para isso devemos aprender a pelo menos gerenciar afim de identificar falhas e efetuar correções preventivas.



Com a preocupação precípua de proporcionar referências mais seguras para a execução das chaves de vôo, alguns fatos e regras baseadas nas limitações dos Fatores Humanos devem ser observados. Relacionamos alguns assuntos do tema Fatores Humanos e fazemos algumas recomendações com o objetivo de melhorar a elaboração e a distribuição das programações de vôos.

O resultado pretendido é uma escala de elevada qualidade no aspecto Segurança de Vôo, com conseqüente aumento de produtividade.

É importante ressaltar que as limitações humanas devem ser estudadas para que se possa atingir um equilíbrio entre produtividade e Segurança de Vôo.

O Anexo 1 da ICAO preconiza o conhecimento apropriado de Fatores Humanos por parte dos pilotos e, porque não, também dos profissionais que determinam o dia-a-dia dos tripulantes.

A regulamentação do aeronauta foi implementada com o intuito de promover a Segurança de Vôo mas, mesmo assim, sua aplicação pode ser feita de forma que a boa parte da Segurança pretendida seja colocada em risco.

Normalmente, por alta demanda do tráfego ou por uma eventual falta de tripulantes em um determinado equipamento, torna-se necessário utilizar todas as regras estabelecidas pela regulamentação, num enfoque diferente daquele pretendido - Segurança de Vôo - ainda que dentro da lei, mas longe da margem de Segurança idealizada.

Essa situação submete os tripulantes a cargas de trabalho estressantes e chaves de vôo por vezes perigosas.

A indústria aeronáutica é caracterizada pela irregularidade de horários de trabalho, sendo necessária a disponibilidade das tripulações durante as 24 horas do dia.

No entanto, esses fatores impõem, ao tripulante, riscos relacionados à fisiologia humana, trazendo problemas de saúde física, psicológica e sócio-familiares.

Os turnos da noite, por exemplo, propiciam as disfunções do trato gastrintestinal (úlcera, diarréia etc.), distúrbios psicossomáticos (dor de cabeça, fadiga e náusea) e aumento do risco de doença cardiovascular.

Sabemos que a consideração desses fatores na confecção das escalas demanda aumento de custos, além da complexidade das variáveis.

Mesmo assim, acreditamos ser possível e essencial incluir os Fatores Humanos como aspecto a ser considerado.

Com esse novo enfoque, apesar de o aumento do custo da escala ser o único parâmetro que pode ser facilmente quantificado, temos a convicção de que os resultados desse investimento em termos de melhoria da Segurança de Vôo, aumento da produtividade e a diminuição de dispensas médicas serão facilmente notados em pouco tempo.

Falhas mecânicas e condições adversas de tempo não são tão preocupantes isoladamente.

Porém, sua combinação com outros fatores pode quebrar ou remover as defesas do sistema e isso sim é preocupante.

Como em várias atividades de risco elevado, a aviação vem desenvolvendo artifícios que tentam manter o sistema à prova de falhas simples, de maneira bem genérica, criando defesas.

A probabilidade maior é que sejamos vítimas de um acidente "organizacional", onde uma falha latente, normalmente gerada nas esferas gerenciais e organizacionais, combinada com eventos adversos (mau tempo, pane, local desconhecido etc.) e falhas ativas individuais (erro ou violação de procedimentos operacionais) desencadeiam uma situação de perigo.

Para um impacto significativo na eliminação desses acidentes/incidentes "organizacionais" é imprescindível entendermos melhor esses fatores contribuintes.

A quantidade de acidentes e incidentes são maus indicadores da "saúde" da Segurança de Vôo de uma empresa.

Somente o controle completo dos fatores causadores desses acidentes pode dar uma real medida do nível de Segurança de uma organização.

Em outras palavras, organizações "seguras" podem ter acidentes graves, enquanto as "inseguras" podem escapar deles, por pura sorte, durante longos períodos.

Situações extremas de fadiga induzidas por uma escala mal feita podem ser o fator desencadeador de incidentes/acidentes, principalmente em condições adversas.

O piloto tem sido mais de uma vez a última defesa do sistema.

Criar e fortificar defesas para o sistema é uma atitude reativa, tomar ações em decorrência dos fatos consumados, posição clássica em relação a acidentes.

Com resultados iniciais positivos existe uma grande probabilidade de que as causas reais não sejam combatidas. Essa atitude não é completamente errada, só que ataca apenas parte do problema.

Sono

"Minha mente estala on e off... Eu tento deixar uma pálpebra fechada de cada vez enquanto a outra eu sustento aberta com o meu desejo. Mas o esforço é inútil. O sono está vencendo. Todo o meu corpo reclama que nada, nada que se pode obter na vida, é tão desejado quanto o sono. Minha mente está perdendo a firmeza e o controle".(Charles A. Lindbergh)

O sono é uma necessidade fisiológica vital, fundamental para manter a atenção e a performance. Quando privado do sono, o cérebro apresenta uma resposta natural por meio da fadiga e da sonolência.

O problema surge quando se tem a necessidade de trabalhar, ou viajar, durante o período normal de sono e das dificuldades em ter que dormir quando os ritmos biológicos não estão na fase do sono.

Lapsos e performance inconstante são características de uma pessoa privada do sono.

O indivíduo nessa condição não é como um motor que funciona perfeitamente até que se acabe o combustível e pára de funcionar; é mais parecido com um carro velho que por vezes funciona de maneira adequada, apresenta deficiências, melhora e, depois, deteriora profundamente seu funcionamento e assim vai indo de maneira inconstante.

Outro efeito da falta de sono na performance humana, principalmente quando executando tarefas especializadas, tem se apresentado na influência sobre as atitudes subjetivas: humor, aparência e comportamento.

Como a motivação representa a diferença entre o que realmente vão fazer, uma combinação particular de circunstâncias tem uma relevância direta na performance humana.

Quando uma pessoa que necessita de 8 horas de sono (em média para 24 horas) consegue dormir somente 6 horas, há um déficit de 2 horas de sono.

É importante frisar que qualquer perda subseqüente de sono irá resultar num efeito cumulativo, que somente poderá ser revertido pelo próprio sono.

Mesmo a carência parcial do sono é suficiente para ocasionar os efeitos já descritos.

Um dos aspectos mais perigosos da degradação decorrente da falta do sono é o fato de ser pouco provável que uma pessoa tenha consciência do quanto sua performance está se deteriorando.

Podemos comparar essa falta de consciência da deterioração da performance com os efeitos da hipóxia (baixo teor de oxigênio) ou de consumo de álcool.

É importante, pois, que o período de descanso, após uma jornada, propicie uma oportunidade de recuperar o sono e restabelecer os níveis normais de performance e atenção.

Em geral, duas noites com as costumeiras horas de sono necessárias a um indivíduo estabilizam o sono regular e restauram os níveis aceitáveis de performance e atenção.

Os períodos de recuperação mais freqüentes reduzem o cansaço acumulado com mais eficiência do que os períodos menos freqüentes.

Fadiga

"O nariz do avião está baixo, a asa baixa; o avião está mergulhando e virando. Estive dormindo com os olhos abertos... Chutei o leme esquerdo e puxei o manche... Meus olhos pularam para o altímetro... Estou a 1600 pés. O indicador de curvas pende para a esquerda, a velocidade cai, a bolinha sai rapidamente para o lado... Meu avião está ficando fora de controle!" (Charles Lindbergh)

Por definição, fadiga é a fonte das dificuldades que tendem a gerar confusão ou retardo do processo de execução.

Aparece como um processo de causas múltiplas: pode ser reflexo de descanso inadequado, alta carga de trabalho e, principalmente, as horas de vôo (possivelmente pelas alterações e interferências nos ritmos biológicos, que são freqüentemente descritos pelas "vítimas" como jet lag).

Também pode ser interpretada como excessiva atividade física ou muscular e, finalmente, pode ser resultado de grande atividade cognitiva, como em uma preparação para um importante exame.

A fadiga é traiçoeira. Estudos têm comprovado ser muito difícil estimar com precisão os nossos próprios níveis de sonolência e vigília.

Um estudo feito pela NASA constatou que muitos pilotos que se consideravam no ápice de sua vigília ficaram surpresos ao descobrirem que, ao serem submetidos a testes específicos, constatou-se que seus níveis de fadiga estavam bem altos.

Cada tipo de vôo apresenta características marcantes de fadiga que afetam o desempenho dos pilotos. Sem dúvida alguma, tanto os vôos que atravessam fusos horários, como jornadas de trabalho noturno, provocam alterações intensas nos nossos organismos.

A cada mês, a NASA recebe mais e mais relatórios de tripulações de vôos transmeridionais, descrevendo como a fadiga contribui para que cometam erros operacionais como: "varar" níveis de vôo, desviar da rota, pousar sem autorização da torre, calcular incorretamente o combustível etc.

Efeitos da fadiga foram detectados nas investigações do desastre da Challenger em 1986.

Dentre diversos itens de Fatores Humanos considerados deficientes, estavam possíveis efeitos de privação do sono, excessivas e extensas jornadas de trabalho, efeitos decorrentes de alteração dos ritmos circadianos e a tensão decorrente da pressão de se lançar a nave em detrimento às ponderações sobre a segurança de vôo.


Conclusão

A vasta literatura internacional a respeito das condições de trabalho e saúde dos aeronautas demonstra que o tema é complexo, envolvendo uma multiplicidade de aspectos.

Fica evidente que as tripulações estão expostas a várias condições adversas.

Por outro lado, reconhecemos que a indústria aeronáutica representa uma classe diferente em suas necessidades quanto ao tipo de trabalho e ambientes operacionais e, também, as diretrizes e os regulamentos não podem cobrir todo o pessoal ou condições operacionais.

Portanto, não existe uma solução única e definitiva para esses problemas. No entanto, excesso de zelo com os aspectos econômicos não pode negligenciar a Segurança.

Recomendamos que mesmo com uma eventual elevação dos custos para a realização dos vôos solicitados é preferível optar por uma escala com enfoque de Segurança e Fatores Humanos.

Uma simples saída da pista por motivos de stress ou fadiga já pagaria os custos extras com esse investimento proposto.

O desfio das novas tecnologias é de que capitalizaremos em suas qualidades meios para que as tripulações possam atuar de maneira mais segura e que não se iludam acreditando que podem confiar nos automatismos modernos e que isso possa compensar a realidade de nossa necessidades diárias de sono e repouso.

É essencial, pois, que a Segurança seja reconhecida como uma responsabilidade dividida entre todos os participantes da indústria.


Fonte:Air safety group/Video:Voar News

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