Diferente do que muitos pensam, Alberto Santos Dumont não fez, apenas, um único vôo autônomo e controlado, em um único dia, a bordo de sua invenção, o 14-bis, no dia 23 de outubro de 1906, mas, sim, realizou vários outros vôos bem sucedidos, sendo que, em diversas ocasiões, seus vôos, foram, in loco, homologados por conceituados especialistas em aviação, diante de um imenso público, perante vários órgãos da imprensa, antes que qualquer outro pioneiro conseguisse realizar a mesma proeza com sucesso.

Santos Dumont realizou todas as suas façanhas, de forma honrada, tanto as bem sucedidas, quanto as de resultado adverso, de forma civilizada e pública. Nunca se esquivou de cumprir as regras de homologação científica de sua época, não recorreu a nenhum subterfúgio abominável, disputando sempre de forma leal e respeitosa com seus concorrentes, sem o uso de artifícios apócrifos, sem comportamentos suspeitos, ou duvidosos, e nunca avocou para si, de forma extemporânea condenável, o que a ele nunca pertenceu.


Figura 1 – Alberto Santos Dumont

Santos Dumont não patenteou seu invento e se manifestou, publicamente, em diversas oportunidades, que a sua invenção, o avião, fora por ele doado à humanidade, para fins pacíficos.

Muito se fala do histórico dia 23 de outubro de 1906, contudo os relevantes feitos de Santos Dumont, no que tange à invenção do avião, extrapolam essa memorável data, demonstrando que suas pioneiras realizações são muito mais ricas e se estendem ao longo de um importante período da história.

Fatos Históricos

Primeiro experimento homologado de Santos Dumont com o avião 14-bis

Um teste animador: Na manhã do dia 13 de setembro de 1906, no Campo de Bagatelle, Santos Dumont, a bordo do14-bis, realizou dois testes sendo que, no segundo teste, após ter percorrido aproximadamente 200 metros, as rodas dianteiras desprenderam-se do chão, em seguida, após percorrer mais alguns metros, a roda traseira, também se despregou do solo, fazendo com que a aeronave não tivesse mais nenhum ponto de apoio no chão.

Após lançar-se ao espaço, por seus próprios meios, o 14-bis, chegou à altura de até, aproximadamente, 1 metro, percorrendo uma distância aproximada de 8 metros em pleno ar, até que, inesperadamente, a aeronave tocou o solo em atitude imprevista, sofrendo pequenas avarias, sem nenhuma conseqüência séria para o piloto, nem para o avião.

O percurso, entre o desprendimento das rodas dianteiras do chão e o retorno da aeronave ao solo, foi avaliado em 100 metros.

“Todos aqueles que assistiram à experiência ficaram consternados. No entanto, vencida a surpresa, correm até o aparelho, mas logo verificam que Santos Dumont estava incólume, não sofrera o menor dano” – Trecho publicado pela revista La Nature, de 6 de outubro de 1906, n° 1741, páginas 289 e 290, França. Publicado, também, no livro La Gloire Des Ailes, de Louis Blériot e Édouard Ramond, Les Éditions de France, Paris, 1927, página 55.

Santos Dumont foi aclamado pela sua admirável realização e os membros do Aero Clube da França redigiram e assinaram a seguinte ata oficial, que homologou e certificou o experimento:

“Bagatelle, 13 de setembro de 1906.

Nós, abaixo assinados, representantes do Aero Clube da França, incumbidos de controlar de visu a experiência do aeroplano “14-bis”, construído pelo Sr. Alberto Santos Dumont, de nacionalidade brasileira, formulamos a seguinte ata, do que vimos:

Depois de um primeiro ensaio, às 8:40 horas, um segundo ensaio foi tentado em sentido contrário do primeiro. Nesta tentativa, depois do percurso de duzentos metros, correndo sobre o solo, o aparelho pilotado por Santos Dumont se levantou, muito nitidamente.

As três rodas do aparelho deixaram de estar em contato com o solo.

O aparelho subiu a uma altura que os abaixo assinados avaliaram em 80 a 96 centímetros, e isto em um percurso de 100 metros, com velocidade de translação avaliada em 30 a 35 quilômetros por hora.

Ernest Archdeacon, Presidente do Aero Clube da França

E. Surcouf, Secretário da Comissão Mista Cronometrista.”

A conceituada revista francesa La Nature publicou o seguinte: “O dia 13 de setembro de 1906 será, doravante, histórico, pois, pela primeira vez, um homem elevou-se ao ar por seus próprios meios…” – La Nature publicou, ainda: “Nós pudemos constatar, de visu, e trezentas pessoas o fizeram conosco, que, sobre o gramado de Bagatelle, no Bois de Boulogne, Santos Dumont, ergueu-se, aproximadamente, a um metro do solo, num espaço de sete a oito metros. É bem pouco, evidentemente, mas é o bastante para provar que se pode transportar uma fonte de energia, que permite evoluir no espaço.”

No livro La Gloire Des Ailes, de Louis Blériot e Édouard Ramond, de 1927, foi transcrito a seguinte nota de um jornal: “Não foi sem dificuldade, mas pela primeira vez, depois Lilienthal, alguém pôde sustentar-se alguns momentos no ar, sem o auxílio de nenhum flutuador. Felicitemos bem sinceramente Santos Dumont, por ter conseguido, com seu mais pesado que o ar, deixar o solo durante alguns instantes.”

O L’Illustration de 22 de setembro de 1906 publicou: “…é a primeira vez que um aeroplano a motor toma o seu vôo livremente…”

O memorável vôo – certificado e homologado – de 23 de outubro de 1906

Os experimentos de 13 de setembro de 1906 demonstraram a Santos Dumont que era necessário aprimorar a sua aeronave, bem como era preciso conhecer melhor o comportamento de seu aeroplano no ar.

Assim sendo, Santos Dumont declarou: “Com grande ansiedade, consertei rapidamente o aparelho, fiz-lhe algumas pequenas modificações e, durante algumas semanas, rodei em Bagatelle, a fim de me aperfeiçoar no difícil governo.”

Dessa forma, Santos Dumont trabalhou no aprimoramento do 14-bis, para que pudesse ter um melhor desempenho.

Após ter realizado as alterações necessárias em seu invento e ter se preparado, Santos Dumont comunicou ao Aero Clube da França que iria tentar realizar um vôo, conforme as regras estipuladas pelo Prêmio Archdeacon.

O Premio Archdeacon foi instituído em outubro de 1904 pelo famoso Advogado Francês Ernest Archdeacon, membro do Aero Clube da França.

Esse prêmio seria concedido àquele que fizesse um percurso controlado em um aeroplano, sendo que deveria percorrer a distância mínima de 25 metros com um ângulo máximo de queda de 25%.

Na manhã do dia combinado foram realizados os preparativos para a realização do vôo, mas, devido a um problema técnico com a hélice do 14-bis, o vôo fora transferido para a tarde.

Por volta da 16:00 horas, do dia 23 de outubro de 1906, após ter realizado os ajustes necessários na sua aeronave, Santos Dumont aciona o motor do 14-bis e inicia a experiência.

Após uma breve corrida de decolagem, o 14-bis, pilotado por Santos Dumont, decola e alça vôo, de forma controlada, percorrendo a distância de 60 metros, a uma altura média de 3 metros do solo, pousando em seguida, causando espanto e assombro a todos aqueles que presenciaram esse fato histórico.

“É, portanto, a vitória completa do mais pesado que o ar; Santos Dumont demonstrou, de forma indiscutível, que é possível se elevar do solo por seus próprios meios e se manter no ar.

Não há dúvida, se o espaço fosse suficiente, ele teria voado durante um tempo maior, pois o equilíbrio da máquina era perfeito.” – Revista La Nature, 3 de novembro de 1906.

“Um minuto memorável na história da navegação aérea.” - L’Illustration, França, 27 de outubro de 1906.

“O Primeiro vôo da máquina mais pesada que o ar: Sr. Santos Dumont, vencedor do Prêmio Archdeacon” – The Illustrated London News, n° 3524, Londres, 3 de novembro de 1906.

“Eu tive de súbito a sensação de uma imobilidade calma, perfeita. Nada de trepidações, de sobressaltos, ondulação das asas!… É assim que eu soube que deixei o solo.” – Declaração de Santos Dumont a um repórter do Le Petit Journal, que publicou a matéria “A conquista do ar – Ontem, o Sr. Santos-Dumont voou em seu avião – Achamos que ele ganhou o Prêmio Archdeacon” – Le Petit Journal, 24 de outubro de 1906.

“Eu ainda não tenho bem em minhas mãos a direção. Trata-se de um estudo a fazer, mas logo que eu acrescentar um pequeno leme às duas asas, o aparelho estará perfeito.” – Declaração sobre a intenção de instalar ailerons no 14-bis, proferida por Santos Dumont a um jornalista do Le Matin, que publicou a matéria “O homem conquistou o ar – Santos Dumont fez ontem uma experiência sensacional” – Le Matin, 24 de outubro de 1906.

O aeronauta militar Capitão Ferdinand Ferber, do Exército Francês, importante pioneiro da aviação, afirmou em um artigo publicado pela revista “L’Aérophile”: “…este acontecimento é da mais alta importância, pois ele fixa, através de controle oficial, um resultado definido.”

No dia 10 de novembro de 1906 o Aero Clube da França ofereceu um banquete em homenagem a Santos Dumont, sendo que, durante a realização daquele ágape, o Sr. Ernest Archdeacon declarou: “Se algum dia eu pudesse pecar por inveja, pecaria hoje invejando o meu amigo Santos Dumont, que conseguiu conquistar uma das glórias mais belas que o homem pode ambicionar neste mundo.

Acaba de realizar, não em segredo, nem diante de testemunhas hipotéticas e complacentes, mas à plena luz meridiana e perante uma multidão, um soberbo vôo de sessenta metros, a três metros de distância do solo, o que constitui um fato decisivo na história da aviação.”

Durante a realização desse mesmo banquete, Louis Paul Cailletet, que foi por vários anos, Presidente do Aero Clube da França, ergueu um brinde a Santos Dumont, declarando: “o primeiro homem que no mundo realizou, em aeroplano, um vôo mecânico”.


O 14-bis em pleno vôo no dia 23 de outubro de 1906

Os históricos vôos de 12 de novembro de 1906

Certificados pelo Aero Clube da França e pela Federação Aeronáutica Internacional

Dando prosseguimento às suas experiências, Santos Dumont instalou ailerons no 14-bis, visando melhorar o controle da aeronave.

O Le Petit Journal, publica uma matéria a respeito do uso de ailerons no 14-bis: “A adição de dois pequenos lemes laterais, cuja ação de juntará ao o leme de grande porte, combaterá as oscilações.

Os dois lemes adicionais são acionados através de cabos que se juntam a um anel conectado a cada braço do piloto” – Le Petit Journal, n° 16027, de 13 de novembro de 1906.

No dia 12 de novembro, Santos Dumont se apresentou, juntamente com o pioneiro e concorrente Louis Blériot, para tentar vencer o Prêmio do Aeroclube da França, instituído em 1904, que seria outorgado àquele que primeiro percorresse a distância de 100 metros.

Santos Dumont cedeu a vez, permitindo que seu concorrente fizesse a primeira tentativa, mas Blériot não obteve sucesso com a sua aeronave.

Nesse histórico dia, Santos Dumont realizou seis vôos bem sucedidos, a favor e contra o vento, demonstrando que sua aeronave, realmente, voava e não dependia do vento como e auxílio externo.

Decolar e iniciar um vôo a favor do vento é uma situação bem desfavorável e, considerando as limitações do 14-bis, por ser uma aeronave pioneira, podemos compreender a dimensão e a importância da proeza, sem precedente, realizada por Santos Dumont.

Os cinco primeiros vôos, apesar de terem sido realizados com sucesso, não cumpriram as exigências do prêmio do Aero Clube da França, mas o sexto vôo, não só cumpriu o exigido, como extrapolou, positivamente, todas as exigências e expectativas, voando 220 metros, a uma altura de 6 metros do solo, extasiando todos ali presentes, fazendo com que Santos Dumont deixasse sua marca indelével na História da Aviação, como o primeiro homem a inventar e a voar o mais-pesado-que-o-ar, em vôo autônomo e com controle, em ato público e coberto por vários órgãos da imprensa, inclusive da imprensa internacional, tudo certificado pelo Aero Clube da França e pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), estabelecendo o primeiro vôo recorde da História da Aviação.

“Voou, Voou, Voou!… Santos Dumont, no aeroplano, passou ontem 220 metros.” – Le Matin, 13 de novembro de 1906.

Resumo dos vôos históricos de 12 de novembro de 1906

Primeiro Vôo – Realizado às 10 horas da manhã, percorreu em 5 segundos a distância de 40 metros a uma altura de 40 centímetros do solo.

Segundo e Terceiro Vôos – Realizado às 10:25 horas, a aeronave percorre a extensão do campo, realizando dois vôos consecutivos, a uma altura bem próxima do solo.

O segundo vôo percorreu a distância de 40 metros e o terceiro percorreu aproximadamente 60 metros.

Quarto Vôo – Realizado às 16:09 horas, percorreu 50 metros.

Quinto Vôo – Percorreu a distância de 82 metros e 60 centímetros em 7 segundos e dois décimos. Nesse vôo Santos Dumont superou o seu recorde de 23 de outubro daquele ano.

Sexto Vôo – Realizado às 16:45. Nesse vôo, Santos Dumont decidiu sair contra o vento e realizou um vôo de 21 segundos e dois décimos, percorrendo 220 metros de distância, a uma altura de 6 metros do solo, vencendo o Prêmio do Aero Clube da França.


O 14-bis de 12 de novembro de 1906 possuía ailerons

Santos Dumont, posteriormente, realizou mais alguns vôos com o 14-bis e depois se dedicou a construir uma aeronave mais eficiente, de melhor desempenho. Seu trabalho culminou na construção do n° 20 Demoiselle, que realizou muitos vôos magníficos.


O Demoiselle

Santos Dumont 12-11-1906 Bagatelle 21 s
Henry Farman 26-10-1907 Issy-les-Moulineaux 52 s
Henry Farman 12-01-1908 Issy-les-Moulineaux 1 min 28 s
Henry Farman 21-03-1908 Issy-les-Moulineaux 3 min 39 s
Léon Delagrange 11-04-1908 Champ de Mars 6 min 30 s
Léon Delagrange 30-03-1908 Champ de Rome 15min 26 s
Henry Farman 06-07-1908 Issy-les-Moulineaux 20 min 19 s
Léon Delagrange 06-09-1908 Issy-les-Moulineaux 29 min 53 s

Tabela de Recordes Homologados pela Federação Aeronáutica Internacional

Considerando todos os fatos históricos, protagonizados pelo “Pai da Aviação” e com o propósito de eternizar o reconhecimento de todos os brasileiros para o feito memorável de Santos Dumont, o então Presidente Getúlio Vargas, no dia 4 de julho de 1936, através da Lei n° 218, instituiu o dia 23 de outubro como o “Dia do Aviador”.

É relevante observar que a invenção do avião não é mérito exclusivo de uma única pessoa, pois muitos, direta ou indiretamente contribuíram para com essa importante invenção, através de descobertas essenciais e da realização de muitos outros inventos fundamentais, sem os quais seria impossível construir o mais-pesado-que-o-ar.

Contudo, muitos pioneiros, à época de Santos Dumont, tentaram, mas não obtiveram sucesso ao fazer uso da então enorme gama de recursos e de conhecimento, que estavam à disposição e que permitiam a invenção do avião.

Coube ao Ilustre brasileiro Alberto Santos Dumont, com seu gênio inventivo, utilizar, sabiamente, todo cabedal de conhecimento à sua disposição, de forma criativa e bem sucedida, conseguindo solucionar todos os problemas envolvidos na realização do vôo autônomo motorizado e dessa forma, conseguiu ser o primeiro a construir um aparelho inédito, o avião, que, realmente, capacitou o ser humano a realizar o vôo mecânico controlado, podendo, finalmente, concretizar o velho sonho de voar.

Alberto Santos Dumont, o Ilustre inventor brasileiro, Pai da Aviação, cuja dedicação e esforço, na conquista do ar, permitiu e permite que muitos sonhos sejam realizados e, graças a seus esforços inventivos de grande sucesso, podemos comemorar, com júbilo, o dia do Aviador.


Monumento, localizado na França, em homenagem a Santos Dumont

Figura 5 – Em 1910 foi erigido o primeiro monumento francês, no campo de Bagatelle, em homenagem a Santos Dumont, por iniciativa do Aero Clube da França, contendo a seguinte inscrição: “Aqui, em 12 de novembro de 1906, sob o controle do Aero Clube da França, Santos Dumont estabeleceu os primeiros recordes de aviação do mundo. Durante 21 segundos e 1/5: distância 200 m.”


a Santos Dumont

Figura 6 – Foto do segundo monumento em Homenagem a Santos Dumont, localizado na França, de autoria do escultor francês Saint-Claude, erigida em 1913, contendo o seguinte texto: “Este monumento foi erguido pelo Aero Clube da França para comemorar as experiências de Santos Dumont, pioneiro da locomoção aérea.”

Em respeito à memória de nosso grande e ilustre inventor, no dia 23 de outubro, dia do Aviador, reverenciamos Santos Dumont, pois suas relevantes realizações engrandecem o nosso país e evidenciam a garra do povo brasileiro.


Uma Homenagem aos aviadores pelo dia 23/10/2010 que DEUS esteja sempre nos abençoando .

E lembrem-se sempre voem em segurança acima de tudo.


VOAR NEWS

Fontes:

  • Santos Dumont e a Conquista do Ar – Aluízio Napoleão – Editora Itatiaia Limitada -Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, Brasil 1988.
  • As Lutas a Glória e o Martírio de Santos Dumont – Fernando Jorge – 4 ª Edição – T. A. Queiroz. Editor. Ltda, Brasil 2003.
  • Santos Dumont e a invenção do vôo – Henrique Lins de Barros – 2ª Edição – Jorge Zahar Editor, Brasil 2004.
  • http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/