29/07/2011

Segundo chefe da investigação do BEA pilotos teriam culpa em acidente do voo 447 da Air France

Pilotos do voo 447 poderiam ter salvo a situação, diz chefe da investigação do BEA

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Situação poderia ser contornada mesmo sem dados da velocidade, disse.
Terceiro relatório sobre o acidente identificou série de falhas da tripulação.

Os pilotos do voo 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico em 2009 matando todos os 228 a bordo, poderiam ter salvo a situação mesmo depois que a cabine não recebia mais os dados de velocidade, disse nesta sexta-feira (29) o chefe do BEA, agência francesa que investiga o acidente.

'A situação era salvável', afirmou Jean-Paul Troadec, diretor do Escritório de Investigações e Análises, em entrevista depois da divulgação do terceiro relatório sobre o acidente, que indicou uma série de erros dos pilotos.


A Air France respondeu à divulgação do relatório defendendo seus pilotos e dizendo que não há dados suficientes para responsabilizá-los.

O relatório final do acidente deve sair "provavelmente" no primeiro semestre de 2012, disse Troadec.

"Todos os dados obtidos exigem uma análise mais sistemática que demanda muito tempo", disse.

Moacyr Duarte fala sobre o acidente


arte percurso voo 447 versao estatica (Foto: Arte G1)

Pilotos não receberam treinamento para entender o que ocorria, diz BEA.

Eles não perceberam situação de queda e adotaram procedimento errado.

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo

Uma das caixas-pretas do avião da Air France  (Foto: AFP)
Uma das caixas-pretas do avião da Air France
(Foto: AFP)

Relatório preliminar do Escritório de Investigação e Análise para a segurança da aviação civil (BEA), órgão francês responsável pela investigação das causas do acidente com o voo AF 447, aponta que três fatores principais contribuíram para a queda: falha no treinamento dos copilotos, a perda de sustentação da aeronave e problemas de coordenação na cabine.

O Airbus A-330 fazia a rota entre Rio de Janeiro e Paris em 1º de junho de 2009 quando caiu no Oceano Atlântico deixando 228 mortos.

O relatório foi divulgado nesta sexta-feira (29) e toma como base as informações das caixas-pretas da aeronave.

Segundo o BEA, contribuíram:

1) Pilotos

Houve o que é chamado na aviação de "falha de gerenciamento da cabine". O comandante de bordo foi descansar em momento crítico, em que enfrentariam uma tempestade, e saiu sem dar ordens claras e sem dividir tarefas entre os copilotos. Ao retornar para a cabine durante a queda, não retomou o controle. A cabine estava sob situação de confusão, em que os pilotos tentaram ao mesmo tempo dar ordens ao avião e não adotaram procedimentos esperados, como fazer checagem de informações antes de tomar uma decisão.

2) Estol (perda de sustentação que leva à queda)

Os pilotos não reconheceram o alarme de estol (perda de sustentação) e não entenderam o que estava ocorrendo com a aeronave. Em nenhum momento eles falam em voz alta (como seria o esperado) que o alarme de estol soava - o que ocorreu por 54 segundos ininterruptos - e que a aeronave estava caindo. Não se sabe ainda o porquê, mas eles adotaram o procedimento errado, contrário ao esperado para recuperação de estol, elevando o nariz da aeronave.

3) Treinament0

Os pilotos não haviam recebido treinamento para entender o que ocorria com o avião após o congelamento dos pitots (sensores de velocidade) e a perda das informações em alta altitude. Eles também não haviam recebido treinamento para controlar manualmente a aeronave naquela situação após o desligamento do piloto automático e para recuperar o avião da situação de estol em alta altitude.

O escritório de investigação francês divulgou ainda uma lista com dez recomendações de segurança de voo que devem ser adotados para evitar novos acidentes.

Congelamento dos pitots

O BEA confirma que o acidente foi desencadeado após os pitots (sensores) congelarem durante uma tempestade, começando a enviar informações erradas sobre a velocidade e outros parâmetros para a cabine e desligando o piloto automático.

Como o comandante de bordo estava descansando, um dos copilotos assume o controle e o alarme de estol (perda de sustentação) começa a tocar.

A partir de então, o copiloto sempre eleva o bico da aeronave para cima, chegando a mais de 38 mil pés (cerca de 11,5 mil metros de altura). O procedimento padrão para recuperação estol é o inverso ao adotado pelo piloto, e sim de jogar o bico da aeronave para baixo, buscando ganhar velocidade e recuperar a sustentação, e impedindo a queda, afirmam especialistas e investigadores de tragédias aéreas.

'Eles não erraram', diz especialista

"Este relatório reconhece que a tripulação não tinha informações técnicas suficientes para agir e realizar o maior desempenho possível para impedir a queda", diz o comandante Jorge Barros, investigador da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB) e especialista em segurança de voo.

"O BEA também diz que os pilotos não entenderam a situação de estol, principalmente por falhas no treinamento. Não tem como atuar numa pane se eles não sabem o que fazer, não foram treinador para isso", afirma o oficial.

"Para mim, isso não significa erro dos pilotos. Erro é quando você é treinado para fazer um procedimento e adota um inverso. Eles não erraram, pois não sabiam o que fazer porque não lhes foi passado", acrescenta.

Outro aspecto levantado por ele é que o BEA destaca recomendações para que a Airbus melhore o projeto do avião.

"O painel sem dados, o alarme tocando, a falta de treinamento, e a engenharia da aeronave construíram uma armadilha para que o acidente ocorresse. Os pilotos caíram numa armadilha", afirma Barros.

Sem entender nada

O BEA diz que a saída do comandante da cabine, para descansar na metade do voo, foi feita sem recomendações clara e que não havia uma repartição explícita de tarefas entre os dois copilotos. Antes de ir dormir, o comandante avisa aos subordinados que enfrentarão uma tempestade e pede ao segundo copiloto, mais jovem e com menos experiência, que assuma o lugar onde estava sentado.

Quando o piloto automático cai, após o congelamento dos pitots, o primeiro copiloto assume os comandos. Mas o BEA aponta que eles "não identificaram e anunciaram a perda das velocidades" e também não adotaram os procedimentos corretos neste caso. Segundo a investigação, os copilotos não tinham recebido treinamento sobre o que fazer neste caso e nem em como segurar o avião fora do piloto automático naquela altitude.

"O piloto não entendeu o que estava acontecendo na aeronave. Ou o avião é complicado ou o treinamento é incompleto. O ser humano foi selecionado e treinado pela empresa aérea. Se ele erra, o responsável pelo desempenho dele é a companhia”, acredita Barros.

O G1 divulgou com exclusividade em junho que, um ano após a tragédia, a Airbus emitiu um comunicado alertando para que os pilotos treinassem recuperação de estol.

A investigação destaca que o avião caiu sempre na horizontal, tocando a água com velocidade de 200 quilômetros por hora, e que, durante os 3 minutos e 30 segundos que durou a queda, nenhum anúncio foi feito aos passageiros.

arte voo 447 acidente 29/5 14h30 (Foto: Arte G1)




Fonte:G1.com

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